1/28/2010

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Nem sempre as palavras são a melhor forma de expressão e por vezes o olhar não chega para que nos façamos sentir. (Oldmirror)

Chegámos ao amor pelos mapas vincados da solidão. Quando o veneno das últimas memórias se diluiu no sangue (como o orvalho se evapora dos salgueiros assim que março começa a conspirar), o nosso silêncio gritou para que alguém o escutasse. Despimos, pois, as estátuas um do outro sem o temor de perturbarmos o coração da pedra, e descobrimos que a nudez era a única ponte que entre nós se estendia. Nas imensas noites que se abateram sobre nós, os nossos corpos deixaram de pertencer ao mundo: foram como essas aves surdas que se afastam do bando, eternamente indiferentes ao apelo do Verão. Por isso creio agora que o amor não passou de uma desculpa para juntarmos os nossos desamparos, e não estranho sequer que lábios castigados por tantos beijos como foram os teus nunca tenham nomeado essa doce fadiga que sucede a um abraço, nem me pergunto porque, ao fechar os olhos, são hoje ainda as linhas do teu rosto que as sombras teimosamente me devolvem.
- Maria do Rosário Pedreira (após realizada uma autópsia à decadência)

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1/15/2010

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Apago as luzes, apagos as velas e com elas solto um pouco mais do ar que aquece o coração. (Oldmirror)

Tinham o rosto aberto a quem passava
Tinham lendas e mitos
e frio no coração...
- Eugénio de Andrade

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Sempre soubera que ondulando com a maré, mais tarde ou mais cedo, bateria contra a rochas. Mesmo assim não nunca hesitara. Lançou o corpo naquele carrossel e deixou-se levar na corrente. Sentia o sal entrar-lhe nas feridas, a espuma tomar-lhe conta dos olhos. As costas estavam frias, mas o sol aquecia-lhe o peito. Navegava olhando o céu e desenhando nas nuvens o pedaço de costa com que chocaria. Passaram-se minutos até que as ondas lhe ofereceram a rugosa pedra. A posição inverteu-se. Afundava-se, os olhos ja não fitavam o azul do céu e desfocado, o azul do mar ia escurecendo à medida que a profundidade chegava. Sempre soubera que ondulando com a maré, mais cedo ou mais tarde, bateria contra as rochas; sempre soubera que mergulhando naquele mar, mais tarde ou mais cedo, regressaria à superfície. Esperou. Deixou-se levar. Agora o corpo estava frio. Já não havia sol. (Oldmirror)

Estou apaixonada. E este amor vai decerto arrastar-me para longe. A corrente é demasiado forte, não tenho escolha possível... Posso acabar por perder tudo. Mas já não posso voltar atrás. Só posso deixar-me ir com a maré. Mesmo que comece a arder, mesmo que desapareça para sempre...
- Haruki Murakami

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1/11/2010

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Há abrigos onde as palavras se tornam desnecessárias e as explicações não são importantes. É na comunhão de rituais que se eterniza a tranquilidade e a solidariedade sem que algumas vez fossem discutidas. É assim, porque sempre assim foi. É assim sem que queiramos saber porquê. Há abrigos onde invariavelmente todos regressamos. (Oldmirror)

Serei tudo o que disserem, por inveja ou negação...
- José Carlos Ary dos Santos

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1/10/2010

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E num ápice ficamos entre o amor e a parede. Sem que saibamos bem porque foi que um dia achamos que o poderíamos contornar. Eis-nos então a meio do caminho, conhecendo agora um pouco da estrada que deixamos atrás e a que entretando já fomos trilhando. A meio do caminho, maiores, descobrimos que andámos em círculos que invariavelmente nos trouxeram a este meio, entre o amor e a parede. Ambos nos pertencem, ambos nos pertencemos. Mais do que saber a quem voltar as costas, procuramos agora saber como voltar as costas sabendo sempre que esta parede e este amor nos pertencerão e a eles pertenceremos. (Oldmirror)

Eu acredito que a distância, muito mais do que a proximidade, é o caminho onde o risco é maior de vir a ser encontrado.
- Rainer Maria Rilke

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1/07/2010

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Never be happy is not the same that being unhappy.

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