8/10/2005

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Há 82 anos que existes. Há 82 anos que fazem questão de te esquecer. Mas nunca nos deixaste sem uma palavra, não o querias, eu sei; mas mesmo assim roubamos-tas, são nossas também. Sabes, és bem mais que palavras e carne, sabes que também és emoções, sentimentos. Há 82 anos que nos ensinas a sentir melhor. Eles que esqueçam, nós cá estaremos para continuarmos a roubar-te. (Oldmirror)

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que seia não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento
Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdadea machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal
- Mário Cesariny

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