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[Foto by Oldmirror. Auschwitz.03]
Um dia chegou à janela e disse-me adeus. Nunca nos tínhamos visto mas ela que sabia o mistério dos meus silêncios, veio para mim e estendeu-me as mãos humildemente. Fomos para um jardim e sentámo-nos sobre a relva. Dissemos tudo o que era preciso para sermos um do outro.
Todos os dias descobríamos um divertimento. Uma vez fomos para o campo e ela dava-me os seus olhos enquanto eu repetia insistentemente o nosso nome. Outra vez fomos para as dunas. Tivemos de ir de barco. Estendido no convés eu mergulhava a mão esquerda na água.
À noite, deixava-a sonhando com a grande viagem que lhe prometia e ia para um café beber com um músico que viajara pelo mundo. De madrugada, eu e o músico saíamos para a rua e de aventura em aventura eu falava-lhe dela, esperando que ela viesse com o sol, e com o sol eu desejasse outro dia.Depois, parti. Ela pediu-me que lhe dissesse até à vista.
Deixei um nome na cidade e jamais reencontrei esse nome. Mas o meu nome, que é o nome de todas as minhas coisas, que é o nome de todas as minhas vidas, não o encontrei.
- Fernando Alves dos Santos
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