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Aqui tudo é mau, não entres. Aqui o negro não é puramente estético, como o fumo não desenha formas românticas no ar, o fumo que aqui sentes fere os pulmões, mata-te. Aqui o amor é uma ilusão e o sexo sabe a lágrimas geladas de tanto descerem os corpos. Não procures por aqui o conforto, contenta-te com o arrepio e o soco no estômago. Não leias as palavras como se elas te mostrassem a sétima maravilha, lê-as como se fossem facas apontadas às costas, o canhão que te destruirá a carne. Aqui a única profissão admitida é a de falhado, a de orgulhosamente descamisado. Não admires, revolta-te. Não sorrias, chora. Não te inspires, autoflagela-te. Não te aproximes, espreita de longe, não queiras mais. E vai, esquece o que viste. Detesta. Se não gostas de fel, se tens boas intenções, se acreditas na regeneração, se sonhas a cores, se estás em paz, se consegues espreitar, nem que por um segundo, algo de bom, então vai-te. Aqui tudo é mau, não entres. (Oldmirror)

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