5/27/2008

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- Não tenho mais nada para dar.
- Ainda tens a roupa que vestes.
- Toma-a, também.
- Não chega!
- Sobra-me pouco.
- Mesmo assim...
- Resta-me a pele, o corpo e a alma.
- Ficarei com eles também.
- Deixarei de existir, então.
- Existirás em mim. Não te chega?
- Sempre chegou. Leva-os.
.
- Como te sentes?
- Não sinto.
- Pois não, deste-me tudo.
- Sim.
- Mas ainda vives...
- Preferes que morra?
- Não podes. Existes em mim. Matar-me-ias.
(Oldmirror)

a casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos
durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração

- José Tolentino de Mandonça

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4 Comments:

Blogger Mia said...

temos de existir em nós... antes de tudo o mais.

5/27/2008 05:58:00 da tarde  
Blogger Jo said...

há sempre muitos "eu" dentro de cada um de nós... coexistências (mais ou menos) pacíficas...

beijo*

5/28/2008 07:07:00 da tarde  
Blogger ivone said...

tivesse eu ainda tempo sim
ou
talvez
não

5/28/2008 07:40:00 da tarde  
Blogger sou eu said...

sobra-me em tempo o que me falta em perseverança...

6/04/2008 05:50:00 da tarde  

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