262
Um Portugal de zombies. Um Portugal sem vértebras, dobrado sobre si próprio, incapaz de gritar, de fazer, de mostrar, por uma só vez, a fibra herdada. Um Portugal envergonhado, obeso, anestesiado, preso, acomodado. Um Portugal ridículo, manipulado, ensonado, de braços caídos. Um Portugal que se abandonou a si próprio, que fechou as cortinas, ligou a televisão, embebedou-se com bandeirinhas e impludiu-se em dez milhões de ilhas que navegam ao sabor de um vento que as levará para um triste fim. Um Portugal que esqueceu a palavra revolta, o acto de protestar, a força de se manifestar, o orgulho de resistir. (Oldmirror)
Venham mais cinco, duma assentada que eu pago já
Do branco ou tinto, se o velho estica eu fico por cá
Se tem má pinta, dá-lhe um apito e põe-no a andar
De espada à cinta, já crê que é rei d’aquém e além-mar
Não me obriguem a vir para a rua
Gritar
Que é já tempo d' embalar a trouxa
E zarpar
A gente ajuda, havemos de ser mais
Eu bem sei
Mas há quem queira, deitar abaixo
O que eu levantei
A bucha é dura, mais dura é a razão
Que a sustem só nesta rusga
Não há lugar prós filhos da mãe
Não me obriguem a vir para a rua
Gritar
Que é já tempo d' embalar a trouxa
E zarpar
Bem me diziam, bem me avisavam
Como era a lei
Na minha terra, quem trepa
No coqueiro é o rei
A bucha é dura, mais dura é a razão
Que a sustem só nesta rusga
Não há lugar prós filhos da mãe
Não me obriguem a vir para a rua
Gritar
Que é já tempo d' embalar a trouxa
E zarpar
- José Afonso
A menina distrai-se no Centro Cultural de Belém, ao som dos mais virtuosos músicos de visita ao rectângulo. A senhora entretem-se nas promoções da mega-loja do vizinho espanhol. O senhor colecciona "six packs" enquanto aguarda o apito inicial. O teen masturba-se com os recentes gráficos da PSP. A teen depila-se suspirando pelo surfista lá do bairro. O pobre vasculha o contentor capaz de matar quem se segue na fila do lixo. O rico conta os tostões que o levarão numa viagem de trabalho à favela brasileira onde o espera uma esfomeada morena fogosa que lhe acalma a crise dos 40. Não há tempo. O país morre, mas não há tempo para lhe fazer respiração boca-a-boca. Que se lixe o país, tenho tanto que fazer e amanhã tenho que acordar cedo... (Oldmirror)
revolta
s. f.,
acção ou efeito de revoltar ou revoltar-se;
sedição;
levantamento;
tumulto;
fig.,
grande perturbação moral;
indignação;
prov.,
curva de rio ou de caminho.
resistir
do Lat. resistere
v. int.,
opor resistência;
não ceder;
fazer face a;
defender-se;
recusar-se;
aguentar-se;
não sucumbir;
subsistir.
do Lat. resistere
v. int.,
opor resistência;
não ceder;
fazer face a;
defender-se;
recusar-se;
aguentar-se;
não sucumbir;
subsistir.
Etiquetas: José Afonso
eu também não.
;)*
a zeca afonso só se comenta com o próprio e por não resisti a deixar_te uma das minhas favoritas:
A formiga no carreiro
vinha em sentido contrário
Caiu ao Tejo
ao pé de um septuagenário
Lerpou trepou às tábuas
que flutuavam nas águas
e do cimo de uma delas
virou-se para o formigueiro
mudem de rumo
mudem de rumo
já lá vem outro carreiro
A formiga no carreiro
vinha em sentido diferente
caiu à rua
no meio de toda a gente
buliu abriu as gâmbeas
para trepar às varandas
e do cimo de uma delas
...
A formiga no carreiro
andava à roda da vida
caiu em cima
de uma espinhela caída
furou furou à brava
numa cova que ali estava
e do cimo de uma delas
Vim pedir lume! Não sei do meu isqueiro!
Pois... verdades verdadeiras cheias de verdades... nada mais a acrescentar, tu revoltaste, opinaste, comentaste e voltaste ao ponto de partida... desalento é a unica palavra que me ocorre que acho que não vi entre as tuas...
Gostei do som, aliás, não gostei, gosto!!!