1/15/2010

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Sempre soubera que ondulando com a maré, mais tarde ou mais cedo, bateria contra a rochas. Mesmo assim não nunca hesitara. Lançou o corpo naquele carrossel e deixou-se levar na corrente. Sentia o sal entrar-lhe nas feridas, a espuma tomar-lhe conta dos olhos. As costas estavam frias, mas o sol aquecia-lhe o peito. Navegava olhando o céu e desenhando nas nuvens o pedaço de costa com que chocaria. Passaram-se minutos até que as ondas lhe ofereceram a rugosa pedra. A posição inverteu-se. Afundava-se, os olhos ja não fitavam o azul do céu e desfocado, o azul do mar ia escurecendo à medida que a profundidade chegava. Sempre soubera que ondulando com a maré, mais cedo ou mais tarde, bateria contra as rochas; sempre soubera que mergulhando naquele mar, mais tarde ou mais cedo, regressaria à superfície. Esperou. Deixou-se levar. Agora o corpo estava frio. Já não havia sol. (Oldmirror)

Estou apaixonada. E este amor vai decerto arrastar-me para longe. A corrente é demasiado forte, não tenho escolha possível... Posso acabar por perder tudo. Mas já não posso voltar atrás. Só posso deixar-me ir com a maré. Mesmo que comece a arder, mesmo que desapareça para sempre...
- Haruki Murakami

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2 Comments:

Blogger stamina said...

song to the siren.

1/15/2010 08:05:00 da tarde  
Blogger ivone said...

e cumpriu_se. não há nada a fazer já. o corpo esfriou. o mar cumpriu a maré também até as rochas.só queria o sol. outra vez mais. só uma vez mais o sol.queria sim.

não?...

1/20/2010 11:27:00 da tarde  

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