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Há amores para sempre. Amores que não nos saem do peito mesmo depois de deixarem de ser amores. Amores que não são únicos. Amores a cores, a cheiros, a toques, a livros, palavras, poemas, prosas, filmes, peças, bailados, pessoas. Há poucos amores no meu peito, na minha memória, mas há demasiados amores eternos. E há um mais eterno do que os outros. Aquele que me fez ler a poesia mais luminosa, o único que sem dar por isso irradia azul celeste, que descreve a vida com tamanha felicidade mesmo quando de infelicidade se trata que quase obriga ao emocionado verter de lágrima. Há um amor desses eternos que gosta da vida e nos convence a gostar dela. Acho que até o mais soluçado choro intenso tem nele uma estranha luz de felicidade. Por isso é eterno. Por isso o sigo, por isso é nele que, por impulso, vou buscar um pouco de claridade. Há amores mais amores, amores que não o sendo, sempre o serão. Eu tenho alguns, .um. mais que os outros. (Oldmirror)
Tal como às vezes entramos num quarto, sem saber porquê,
e depois temos de voltar atrás seguindo o rasto da nossa intenção,
tal como conseguimos tirar uma coisa do armário sem tactear
e só depois de a agarrarmos ficamos a saber o que é,
tal como pegamos num embrulho para o levarmos a algum lado
e, ao sairmos, pensamos sempre com um susto
que somos leves de mais, tal como, enquanto esperamos,
nos apaixonamos uns minutos loucamente por uma cara nova,
mas somos afinal nós quem mais espera,
tal como sabemos: este lugar lembra-nos algo mas não sabemos o quê,
e nos ocorre um cheiro qualquer, em forma de recordação,
tal como sabemos de quem devemos desconfiar
e em quem podemos confiar, com quem nos podemos deitar,
é assim, acho, como os animais pensam, conhecem o caminho.
- Judith Herzberg
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Feliz Natal!
Beijos
Morris