Preparou alguns post-it que ficaram colados no espelho da casa de banho. Eram muito poucos: cinco. Não precisaria de mais. Um com alguns contacto, outro com responsabilidades inadiáveis, o terceiro preenchido com a morada de casa e a do trabalho, um ainda para o código de acesso à sua conta bancária e finalmente outro para alguns nomes de escritores, música e preferências pessoais das quais nunca seria capaz de abandonar. A seguir, tirou a roupa, entrou na banheira e demorou eternidades. Enquanto se secava procurava o local. Encontrou-o. Pegou no manual e iniciou a operação de alteração das configurações. Sabia que depois de as alterar, não poderia repetir o procedimento pois, nos papéis que colara no espelho, não havia instruções para tal. Inspirou fundo e carregou no "OK". A partir desse momento, sabia que sempre que acordasse, a sua memória partia do zero; sempre que adormecesse, a memória iniciava um processo de "reset". Cada dia, seria agora, um novo começo, sem ficheiros temporários ou fragmentos passados. Amanhã nasceria de novo, e depois de amanhã, e daqui a dois dias. Sempre. Sem memórias. Sem planos possíveis. (Oldmirror).- Ódio é uma palavra forte, não achas? [Peter Pan]
- O Amor também é! E as pessoas falam como se não significasse nada. [Wendy]