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Num bosque tremendamente encantado, a princesa procurava decorar o mundo. Impaciente, fazia dos pequenos dedos a extensão dos seus doces e curiosos olhos. Nunca passava muito tempo sem que a sua atenção se desviasse de uma enorme árvore para um minúsculo bichinho de conta e era sempre capaz de franzir o sobrolho ou deixar escapar um sorriso quer se tratasse do mais belo dos quadros ou da mais banal nuvem irrequieta. A princesa crescia ao mesmo ritmo dos caracóis do seu cabelo e o mundo não parava de a surpreender e nem naquele bosque as explicações que encontrava para os mais complexos enigmas da natureza deixavam de ser as mais evidentes e simples verdades. É que a princesa não aprendera ainda o significado da palavra impossível, nem ouvira sequer falar nas letras que formam termo complicado. Para ela um mistério é uma coisa mágica e se é mágica é bonita. Para ela o estranho é interessante e o assustador não passa de uma floresta, também ela encantada, escura mas irresistível. E lá continua ela a decorar o mundo sem que um obstáculo seja mais do que um simples galho de árvore sobre o qual se pode saltar. (Oldmirror)

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