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Estou cá dentro, dentro das vozes não da chuva. Mas seria lá fora com a voz da chuva que queria estar, era lá fora que entenderia o que dizia, não cá dentro onde as vozes caem sobre mim e me deixam mais gelado que a chuva ali fora. Aqui dentro há menos vida do que a vida que reparo na chuva. Sinto as palavras mais longe e as gotas mais perto e fico molhado, com o corpo trémulo com o som das palavras que circulam aqui dentro e procuro aquecer-me do outro lado do vidro onde num discurso eloquente a chuva me convence a sonhar. Vivo do outro lado do vidro mas o corpo que me suporta mantém-se deste lado onde só o olhar tem direito a sair para o mundo. Chove lá fora. Chove em mim. (Oldmirror)