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Buscando a luz na escuridão dos corpos, buscando o caminho a trilhar na solidão dos toques, alcançando a superfície nas profundezas da emoção, afogando mágoas no mar alto dos sentimentos. Antes da morte há uma vida para viver. Antes do cansaço, há suor para soltar. Antes de tudo há um nada onde é preciso chegar e outro nada onde se acaba por chegar. (Oldmirror)
Eu queria descrever a mais simples das emoções
alegria ou tristeza
mas não como outros o fazem
invocando raios de sol ou chuva
Eu queria descrever a luz
que cresce dentro de mim
mas que não se assemelha
a nenhuma estrela
porque não é tão brilhante
nem tão pura
e é incerta.
Eu queria descrever a coragem
sem arrastar um leão de pó atrás de mim
e a ansiedade
sem agitar um copo cheio de água
dito de outro modo
daria todas as metáfora
sem troca de uma só palavra
do meu peito arrancaria uma costela
por uma só palavra
sufocada dentro das fronteiras
da minha pele
mas aparentemente isso não é possível
e para dizer apenas – eu amo
ando às voltas como um louco
apanhando pássaros e pássaros com as mãos
e a minha ternura
que afinal não é feita de água
pergunta à água por um rosto
e a raiva
diferente do fogo
pede ao fogo
uma língua eloquente
e nada é nítido
e nada é inteiramente nítido
em mim
cavalheiro de cabelos brancos
separação de uma vez para sempre
e disse
isto está no poema
isto é o objecto
caímos no sono
com uma mão debaixo da cabeça
e a outra numa pilha de planetas
os nossos pés abandonam-nos
e provam a terra
com as suas raízes subtis
que despedaçamos dolorosamente
na manhã seguinte
- Zbigniew Herbert
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e depois do nada poderá ou não voltar a haver tudo
e se tudo não houver resta_nos sempre o nada!
ponto de viragem?
:)*