7/01/2008

271



Sem ruído, abre a arca devagar. Sente medo de espreitar. Custa-lhe ainda entender que sempre ali estivera, quase perto, e sempre a procurara. Agarra-a como se de cristal se tratasse. Ergue a tampa e vê-os. Ali estavam estavam eles...os sonhos. Existia, afinal, a arca dos sonhos. Ainda precisava de os reconhecer, saber interpreta-los, saber como lhes tocar, entender quais poderia reclamar como seus. Estavam ali, na arca, os sonhos. Pensava agora que guardaria só para si aquele baú que sempre procurara. Pensava agora que precisaria de tempo para aprender a mexer no tesouro delicado e desejado. A arca dos sonhos era sua. A tampa fora aberta. Vira-os lá, estavam lá todos. Agora, devagar, iria conta-los, classifica-los, saber mima-los para no fim, a arca e os sonhos deixassem de ser um sonho. (Oldmirror)

Alguma vez amaste
Pelo prazer puro
De amar
Deste porventura já
Uma dentada numa maçã
Pelo sabor do fruto
A sua doçura e sabor
Perdeste muitas vezes o Norte?
Sim, já amei
Pelo prazer de amar
Mas a maçã era dura
E rachei a dentadura
Essas paixões imaturas
Esses amores indigestos
Muitas vezes me fizeram
Cair doente
Mas um amor que dura
Deixa os amantes exaustos
E os seus beijos passados
Apoderecem-nos a língua
Mas os amores fugidíos
Conhecem tão fúteis febres
E os seus beijos tão verdes
Esfolam-se contra os lábios
Porque se quiseres amar
Pelo puro prazer do amor
O verme da maçã
Pode escapar-se pelos dentes
E comer-te o coração
O cérebro e tudo o resto
Engelham-nos lentamente
Mas quando ousamos amar
Pelo puro prazer do amor
Esse verme da maçã
Que nos escapa pelos dentes
Pode o coração perfurmar-nos
Bem assim como o cérebro
E deixar-nos
O seu aroma cá dentro
Mas os amores fugidios
Vêem tão fúteis esforços
As carícias passageiras
Podem gastar-nos o corpo
Mas um amor que dura
Aos amantes menos belos
As carícias à medida
Dos rumos da nossa pele.
-"Canções de Amor", filme.

Etiquetas:

2 Comments:

Blogger ivone said...

Sonhei contigo embora nenhum sonho
possa ter habitantes, tu a quem chamo
amor, cada ano pudesse trazer
um pouco mais de convicção a
esta palavra. É verdade o sonho
poderá ter feito com que, nesta
rarefacção de ambos, a tua presença se
impusesse - como se cada gesto
do poema te restituísse um corpo
que sinto ao dizer o teu nome,
confundindo os teus
lábios com o rebordo desta chávena
de café já frio. Então, bebo-o
de um trago o mesmo se pode fazer
ao amor, quando entre mim e ti
se instalou todo este espaço -
terra, água, nuvens, rios e
o lago obscuro do tempo
que o inverno rouba à transparência
da fontes. É isto, porém, que
faz com que a solidão não seja mais
do que um lugar comum saber
que existes, aí, e estar contigo
mesmo que só o silêncio me
responda quando, uma vez mais
te chamo.




uma partilha de sonho
contigo

a ecloga de júdice
que me persegue
e lembrei
quando te li


fica bem

7/02/2008 11:59:00 da tarde  
Blogger Secret@ said...

Só para deixar uma lágrima na arca... onde dentro dela alem da poeira, só resta solidão, ausência, magoa e saudade!


... podes fechar, que já não importa!

11/19/2008 04:50:00 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home

Estou no blog.com.pt - comunidade de bloggers em língua portuguesa
Oldmirror© 2005-2011 All Rights Reserved.