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Não nos cruzamos em terra, provavelmente cruzar-nos-emos nos céus rumo a continentes afastados pelo calor, pela temperatura da cerveja e pelos tons de pele. Haverá um tempo em que será inevitável aterrarmos, ficarmos em terra e cruzarmos a vontade única de nos cruzarmos e pelo menos sentirmos a mesma temperatura, nos mesmos corpos. Irá chegar o tempo em que os fusos horários dos relógios de pulso indicarão o tempo exacto, da hora chegada, sem hora de partida. (Oldmirror)
Paris, 23 de Julho de 1759
... Boa noite, minha Sofia. Parto cheio de alegria, da alegria mais doce e pura que um homem pode sentir. Sou amado. Sou-o pela mais digna das mulheres. Estou a teus pés - aí é o meu lugar -, e a beija-los.
Paris, 21 de Outubro de 1759
... Mas molda-te aos meus defeitos - sou já demasiado velho para me emendar. E ser-te-á mais fácil, a ti, teres uma virtude a mais do que eu um defeito a menos...Em certos aspectos valho alguma coisa. A ti, sinto-te, amo-te, escuto-te, olho-te, acaricio-te, e contigo tenho o género de vida que prefiro acima de tudo. Se me acolhes nos teus braços, a minha felicidade é inultrapassável. Há quatro anos pareceste-me bela; hoje acho-te bela mais ainda. eis a magia da constância, a mais difícil e a mais rara das virtudes.
- Cartas de amor de Diderot a Sophie Volland
Etiquetas: Diderot
É uma entrada muito boa neste dez de Outubro, mesmo sem considerar as cartas de Diderot e Sophie. Uma bela imagem do destino, ou simples confluência. Ou fatalidade.. ou repouso..
:)
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não há hora de chegada nem hora de partida. há as horas. as horas em que os minutos não contam e os segundos não se parecem nunca com uma eternidade. e há tu. no céus ou nos infernos crias purgatórios de escrita. quase sempre. aguardem_se mais horas essas em que o que escreves me amarram em temperaturas a fogo e ferro por vezes. porque se assim não for deixarei de vir aqui.