7/10/2009

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Sei que me esperas, mas não sei porque espero. Os dias em que fazemos parentesis na vida deixam o sabor agridoce da chegada e da partida. Atraso-me. Fico parado sem escolher se o passo que darei me levará de novo a esse quarto ou a uma vida que abandono sempre que nele entro.
Não pára de ecoar em mim a frase do protagonista - “We are all empty houses, waiting for someone to open the lock and set us free...” - mas não consigo descobrir que fechadura espero ver aberta.
- Oldmirror (“the lock” – 15/09/07)
Não sei o que é um espírito. Ninguém
conhece a fundo a luz do seu abismo
enquanto o vento, à noite, vai abrindo
as infinitas portas de uma casa
vazia. A minha voz
procura responder a outra voz,
ao choro dos espectros que celebram
a sua missa negra, o seu eterno
sobressalto. Num ermo
da cidade magoada escuto ainda
o rumor de um oráculo,
a febre de um adeus que se prolonga
no estertor dos ponteiros de um relógio,
nesse ritmo feroz, na pulsação
do meu sangue exilado que recorda
um abrigo divino. pai nosso, que estás
entre o céu e a terra, conduz-me
ao precipício onde hibernou a alma
e ensina-me a romper a madrugada
como se a minha face fosseum estilhaço da tua
e nela derretessem, por milagre,
estas gotas de gelo ou de cristal
que não sabem ser lágrimas.
- Fernando Pinto do Amaral

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