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É no silêncio que os dias se vão fazendo, por entre um corpo cansado, pouco pronto para o que se segue, e uma impossibilidade avassaladora de encontrar de novo soluções. As vozes tornam-se facas, os incentivos palavras desnecessárias e os planos meros olhares desconfiados. É no segundo que há vida, frágil para enfrentar o minuto. A esperança enrola-se nas pernas impedindo-as de caminhar, abraça-se ao pescoço mantendo suspensa a respiração e instala-se no olhar proibindo-o de ver para além do chão. É no corpo que as feridas permanecem abertas. Não há pedaço de pele que ainda recorde mais do que o frio arroxeado em que se conserva desde que o fogo foi apagado pela brisa que chegou no momento em que a janela se abriu e o calor se esvaiu sem que a casa voltasse. É na casa de tortura chamada memória que a guerra se faz sem que haja vencedores, apenas derrotados. Tudo deixou de ser inevitável.(Oldmirror)
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A pele é o meu único limite
atravessa-a
onde a luz é mais forte
não feches lá fora o mundo
nem a mim cá dentro mostra-me
que o sol no céu
é o sonho em mim própria
a realidade ardente
quando me mordes
e me fazes sentir
que não há diferença
entre lado de fora e lado de dentro
entre dor e carícia
pedra e palavra
porosa às tuas investidas
sou aquela que
se abre em desejo
de existir no mundo
em todo o lado e ao mesmo tempo
dá-me o que tens
de tudo
não exijo mais nada.
- Pia Tafdrup
Etiquetas: Pia Tafdrup
Brilhante texto! E poesia idem!
...a vida...somente essa louca e desvairada armadilha.
Beijos!