2/21/2006

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[Photo by Alexis Schwarzenbach]

Não basta apagar as pistas do passado. Não basta abandonarmo-nos. Não basta fugir dos ventos que nos empurram para trás ou para a frente desejando ficar no presente. É sempre mais do que isso. É sempre do futuro que a visão do passado surge mais nítida. Por quanto tempo ainda será mais seguro ficar no meio da ponte fixando a água e evitanto olhar os lados e o céu? Sem caminhar o caminho faz-se. Sem escolher as escolhas existem. Sem falar a palavra existe. Existe-se mesmo sem existirmos. Vive-se mesmo sem vivermos para além do que a vista alcança. É inevitável que existamos. Apesar do silêncio. Apesar da ausência. Apesar de insistirmos em permanecer entre a espada e a parede, sem coragem para dar o passo que deixe que a espada nos trespasse de uma vez por todas. Ficamos. (Oldmirror)

Onde nenhum. Um tempo para tentar ver. Tentar dizer. Quão pequeno. Quão vasto. Se não ilimitado com que limites. Donde o obscuro. Agora não. Agora que se sabe mais. Agora que não se sabe mais. Sabe-se somente que saída não há. Sem se saber porque se sabe somente que saída não há. Somente entrada. E daí um outro. Um outro lugar onde nenhum. Donde outrora dali regresso nenhum. Não. Lugar nenhum a não ser só um. Nenhum lugar a não ser só um onde lugar nenhum. Donde nunca outrora uma entrada. Dalgum modo uma entrada. Sem um só além. Dali donde não há ali. Por lá onde por lá não há. Ali sem de lá nem dali nem sequer por onde.

- Samuel Beckett
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