4/19/2006

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["David" - Caravaggio]

Procurar-te-ei por todo o lado, até nas mais escuras luminosidades e recônditos pormenores. Admiro-te a expressão, fixo-me nos olhares desistentes e marginais que transformas em sagrados apelos interiores a um amor apenas vivido por quem cheirou a penumbra das noites e se aqueceu na mesma manta que o mendigo abandonou. Ensinaste-me a olhar a claridade através do tenebroso. Mostraste-me a vida com a morte, e viveste e morreste e eu não te perdi. Na tua fuga acabaste por me aprisionar. Na tua arte apunhalaste a minha. Da minha vida, longa, fizeste uma viela na tua, curta. E se um dia escrever o amor derei: o amor é isto. Pouco mais o poderá ser. Pouco melhor poderá ficar. E sempre que me sentar, a olha-las, as outras, continuarei sem verter uma lágrima porque um dia me sentei, a olha-las, as tuas. (Oldmirror)

1 Comments:

Blogger [ t ] said...

(004199-gostei do número)

há fragmentos que na nossa língua surgem com tons distintos e este que acabei de absorver adomeceu-me e suguei-o. porque razão queremos mais uns que outros? com as palavras acontece o mesmo. umas mais que outras. será de nós? ou apenas do que lemos?

4/21/2006 01:12:00 da manhã  

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