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Sinto que não pertenço aqui, mas não me sinto bem ali. Temo não deixar uma marca que ateste que passei por cá. Está calor, muito calor, mesmo assim não evito sentir-me gelado, preso de movimentos. Arrasto-me até ao espelho, procuro no reflexo uma pista que me leve até ao frio. Páro, olho-me. Vejo o tronco, os braços, as pernas, reparo nos pés. Transpiro, mas sinto-me gelado. Retomo a caminhada até à imagem verdadeira, baixo a cabeça antes de olhar, preciso de um momento para me recompor. Noto que este ar gélido não me sai das entranhas, não solto névoa do meu interior. Levanto a cabeça, limpo a humidade no vidro partido e olho. Ali estava todo o gelo do mundo. Ali estava todo o frio numa só existência. Olho-me. Gelo-me. O gelo esta-me no olhar. O gelo gela-me os olhos. O gelo do olhar. Daquele olhar. Do meu olhar. (Oldmirror)
Tomorrow, and tomorrow, and tomorrow
Creeps in this petty pace from day to day,
To the last syllable of recorded time
And all our yesterdays have lighted fools
The way to dusty death. Out, out, brief candle!
Life's but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage
And then is heard no more. It is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.
- William Shakespeare
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