Olha para trás e caminha sem veres o que podes vir a encontrar. Fecha os olhos e segue em frente com o passo apressado. Fecha o coração e entrega-te a quem te reclamar. Não fales e conta a história da tua vida como se de um filme mudo se tratasse. Não ouças o que te dizem e aconselha-te a ti mesmo. Desiste sempre mas começa tudo de novo. Aposta e perde, ganharás novo fôlego. Morre, viverás como nunca. Escolhe um deles, não os sigas todos, correrás o risco de ser feliz. (Oldmirror)O sol é sempre o mesmo e o céu azulora é azul, nitidamente azul,ora é cinza, negro, quase-verde...Mas nunca tem a cor inesperada.O mundo não se modifica.As árvores dão flores,folhas, frutos e pássaroscomo máquinas verdes.As paisagens também não se transformam.Não cai neve vermelha, não há flores que voem,a lua não tem olhose ninguém vai pintar olhos à lua.Tudo é igual, mecânico e exacto.Ainda por cima, os homens são os homens.Soluçam, bebem, riem e digeremsem imaginação.E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,discursos de Mussolini,guerras, orgulhos em transe, automóveis de corrida...E obrigam-me a viver até à Morte!Pois não era mais humanomorrer por um bocadinho,de vez em quando,e recomeçar depois,achando tudo mais novo?Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,morrer em cima de um divãcom a cabeça sobre uma almofada,confiante e sereno por saberque tu velavas por mim, meu amor do Norte.Quando viessem perguntar por mim,havias de dizer com o teu sorrisoonde arde um coração em melodia:"Matou-se esta manhã.Agora não o vou ressuscitarpor uma bagatela."E virias depois, suavemente,velar por mim, subtil e cuidadosa,pé ante pé, não fosses acordara Morte ainda menina no meu colo...-José Gomes FerreiraEtiquetas: José Gomes Ferreira