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Numa vontade incompreensível colocamos a esperança nas mãos de uma borracha que apague o cinzento dos dias, abrimos os braços a um novo calendário que, estúpidos, julgamos trazer tudo de bom fruto dos rituais que, ano após ano, fazemos questão de cumprir. Mas os dias lá voltarão, escuros, desesperados pela coragem que enterramos com a sede de viver apenas um pouquinho, num cantinho. Fecho o livro, não o leio mais. Olho o espelho, mantêm-se as sombras onde confortavelmente me desloco, numa escala de cinzas que me ensinou a não pedir a cor nem a levantar o braço anunciando boas novas. Olho o espelho, sossego, nada mudará, sobreviver-se-à bem mais do que se viverá. Uma pitada de sorrisos, uma gota de risco e muito, muito tempo para deixar correr. (Oldmirror)