Era ali que eu vivera mais do que alguma vez vivi ou viverei. Era ali que a existência de tudo o que transporto foi sendo desenhada e regada como o alecrim e as rosas, as camélias e as orquídeas. Foi ali que vivi, pela última vez que vivi. Era ali que os amava, a primeira vez que os amava. (Oldmirror)A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados
a de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
- Vitorino NemésioEtiquetas: Vitorino Nemésio