"Segue-me à luz", pedira ela disposta a fazê-lo abandonar a noite onde há demasiado tempo se encerrara. "Fa-lo-ei, se vieres à escuridão dar-me a mão", respondera-lhe ele certo de que ela nunca aceitaria fechar os olhos e estender o braço. Ela fê-lo. Ofereceu-lhe, a mão, o braço, o corpo sem hesitar, sem saber sequer a quem se destinavam. Passaram-se demasiados Invernos, muitos Outonos, algumas Primaveras e poucos Verões. A noite passara a ser a morada, o local onde respirar fazia sentido. Chegara o momento. "Estou pronto, seguir-te-ei agora mesmo à luz que me quiseste dar", disse-lhe ele reconhecido. "Não, segui-te à escuridão, ficarei nela, prefiro-a agora", respondeu-lhe ela, decidida a nunca mais querer o dia. Ele sorriu, sentiu-se aliviado e ofereceu-lhe a mão, o braço, o corpo. (Oldmirror)E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.
- Haruki Murakami
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