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Eu quero: Nunca quis muito.Eu tenho: Dois braços...um corpo.Eu acho: Que já acho em demasia.Eu odeio: Não tanto quanto amo.Eu sinto saudades: De as sentir.Eu escuto: Muito e sempre.Eu cheiro: O cheiro que me deixam colado à pele.Eu imploro: Para que nunca me façam implorar.Eu procuro: Chegar bem até ao fim.Eu arrependo-me: De nunca me ter arrependido.Eu amo: Sempre amei.Eu sinto dor: Quando a dor é dos outros.Eu sinto falta: Do toque.Eu importo-me: Cada vez menos.Eu sempre: Arrisquei.Eu fico: Porque se não ficasse poderia não ser encontrado.Eu acredito: Que deixar de acreditar faz sentido.Eu danço: Sempre que a vejo dançar.Eu canto: Letras imaginárias saídas das notas de Jarret.Eu choro: Menos por mais e mais por menos.Eu falho: Por norma.Eu luto: Para erguer a bandeira branca e me render.Eu escrevo: Mais do que mereço.Eu ganho: Por acaso.Eu perco: Por natureza.Eu nunca: Soube bem escolher uma só estrada.Eu confundo-me: Ao tentar saber para onde vou e nunca naquilo que sou.Eu estou: Mais perto do fim.Eu sou: A soma do que sobrou daquilo que não sou.Eu fico feliz: Sempre que a felicidade deixa de ser essencial para me sentir feliz.Eu tenho: Menos tempo mas todo o tempo.Eu preciso: Sempre.Eu deveria: Ser "melhor".(Oldmirror)De tanto se veremHá palavras que vos poriam doentesPalavras conhecidas mas muito perigosas de manejarA não ser que sejam rodeadas de músicaTambém há quem meta açúcar nas amêndoas amargasPalavras como areia, ervaComo sol, como deitados lado a ladoComo pele dourada, como cabelos lourosComo dentes brilhantes e lábios salgadosE depois outras palavras, ainda mais perigosas«Ninguém à vista, podemos seguir»E as mais perigosas de todas:«É ainda melhor à quinta vez.»Felizmente, que há carradas de aeronavesA fabricarem fenomenologia a granelE a meterem-vos bombas atómicas de atravesso pela goela...Peço desculpa… o sopro da inspiração...Não é todos os dias que a musa nos visita.- Boris VianEtiquetas: Boris Vian

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