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Morreste sem que me convencesses. Espero ser convencido antes de morrer.
Se o for, dir-te-ei quando chegar. (Oldmirror)
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
- José Saramago
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Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.
ainda sem convencimento morrendo_se assim à espera
esqueci_me: a poesia é de saramago in os poemas possíveis mas o sem convencimento esse é meu.
roubei_te o 351 de 10/19/2009
sorry
...
Eram contudo palavras de amor.
Não propriamente ditas,
antes sentidas,
antes adivinhadas.
Ou só pressentidas.
Eugénio de Andrade