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Desesperadamente procuras quem te compre o coração, te alugue a vida e ocupe o corpo. Desesperadamente, porque te sentes sem tempo, aceitas a proposta mais baixa e a pressa impede-te de ir a leilão. Amas permanentemente porque não te podes dar ao luxo de esperar, muito menos estás disponível para lutar. Desesperadamente vais sentindo o peso de olhares para os lados, de comparares os lados. A uma velocidade vertiginosa assaltas corações onde te instalas por pouco tempo e nem sabes porquê. Não sabes que há corações que sentem essa tua pressa desesperada em construires em terrenos que ainda não são teus, não sabes que há corações que não se enganam com o bater do teu relógio porque os deles batem incomparavelmente mais devagar, porque há corações que precisam de luta e gostam de lutar e fazem-nos porque não têm pressa, a tua pressa. E enquanto corres no meio da multidão a quem desesperadamente procuras entregar-te, nos minutos, poucos, em que páras, nos momentos em que acordas e nos minutos em que adormeces, porque as defesas abrandam e com elas a pressa, sentes uma insuportável invasão da solidão, uma insurdecedora infelicidade que te faz arrastar pela arquitectura de uma cidade que tem pressa, tem corações, mas nem todos para vender aos desbarato. (Oldmirror)Guardamos na cavea base da árvorede Natal. E tu?Eu dentro do peito.Porém, ninguém viveassim. E as bolas,as velas e os outrosrestantes enfeites?- Endre Kukorelly

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