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Não entendem nada, os parvos. Não conseguem ver que é preciso pouco para que que a felicidade nos habite. Aquela mania de predadores que os cega para sempre impede-os de sentirem um pouco mais, de saberem a que sabe a eternidade, de saberem de que cor se pinta um toque cúmplice. Não entendem que é preciso pouco, é preciso apenas ficar o tempo suficiente, é preciso apenas estar. (Oldmirror)
Achava que não podia ser magoada;achava que com certeza eraimune ao sofrimento -imune às dores do espíritoou à agonia.Meu mundo tinha o calor do sol de abrilMeus pensamentos, salpicados de verde e ouro.Minha alma em êxtase, ainda assimconheceu a dor suave e aguda que só o prazerpode conter.Minha alma planava sobre as gaivotasque, ofegantes, tão alto se lançando,lá no topo pareciam roçar suas asasfarfalhantes no tecto azuldo céu.(Como é frágil o coração humano -um latejar, um frémito -um frágil, luzente instrumentode cristal que choraou canta.)Então de súbito meu mundo escureceuE as trevas encobriram minha alegria.Restou uma ausência triste e doídaOnde mãos sem cuidado tocarame destruíramminha teia prateada de felicidade.As mãos estacaram, atónitas.Mãos que me amavam, choraram ao veros destroços do meu firmamento.(Como é frágil o coração humano -espelhado poço de pensamentos.Tão profundo e trémulo instrumentode vidro, que cantaou chora.)- Sylvia Plath

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