9/08/2006

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Demasiados minutos sem respirar mais do que o ar daquele quarto onde todos os cheiros se misturavam com o cansaço e a vontade de esquecer o mundo reduzido ao tamanho de uma janela pouco interessante. Os despojos de vida acumulavam-se a cada instante, ao mesmo ritmo com que os cigarros iam sendo consumidos, ao mesmo ritmo com que os sorrisos se confundiam com os gemidos e o ponteiro do relógio largado num canto deixava de de marcar o tempo para assinalar o balanço dos corpos. Ali o tempo de uma eternidade foi esgotado, dividido, utilizado até à exaustão. Demasiados minutos entre quatro paredes, não foram suficientes para que tudo fosse dito; não houve tempo. (Oldmirror)

Linho dos ombros
ao tacto
já tecido
Túnica branda
cingida sobre as
espáduas
Os rins despidos
no fato já subido:
as tuas mãos abrindo a madrugada
Linho dos seios
na roca dos sentidos
a seda lenta sedenta na garganta
a lã da boca
cardada
no gemido
e nos joelhos a sede
que os abranda
Linho das ancas
bordado
de torpor
a boca espessa
o fuso da garganta.

- Maria Tereza Horta

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