Sim, eu sei, por vezes precisamos de ser normais, precisamos do que todos precisam, precisamos de esquecer que nunca seremos normais, que nunca chegará o que têm os comuns dos mortais. O que escolherias? A dor ou o nada? O que querias, o possível ou o impossível. Por vezes precisamos de ser normais. Por vezes precisamos de tornar o abraço, eterno; o amor, permanente; o sonho, realidade; a diferença, despercebida. Há dias em que acordamos e não queremos esta vida feita de valetas e de tronos, deste bater do coração que não nos deixa descansar, desta procura incessante que nos faz encontrar e perder. Por vezes gostariamos de ser como os outros, que não o são mas acreditam se-lo, como os outros que nunca sonharam que é possível ser outra coisa. (Oldmirror)Já alguém sentiu a loucuravestir de repente o nosso corpo?Já.E tomar a forma dos objectos?Sim.E acender relâmpagos no pensamento?Também.E às vezes parecer ser o fim?Exactamente.Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?Tal e qual.E depois mostrar-nos o que há-de virmuito melhor do que está?E dar-nos a cheirar uma corque nos faz seguir viagemsem paragemnem resignação?E sentirmo-nos empurrados pelos rinsna aula de descer abismose fazer dos abismos descidas de recreioe covas de encher novidade?E de uns fazer gigantese de outros alienados?E fazer frente ao impossívelatrevidamentee ganhar-lhe, e ganhar-lhea ponto do impossível ficar possível?E quando tudo parece perfeitopoder-se ir ainda mais além?E isto de desencantar vidasaos que julgam que a vida é só uma?E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?Tu Só, loucura, és capaz de transformaro mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuaisSó tu és capaz de fazer que tenham razãotantas razões que hão-de viver juntas.Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.Só tu tens asas para dara quem tas vier buscar- Almada NegreirosEtiquetas: Almada Negreiros