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É impossível simplesmente viver?
A quantas regras e convenções é preciso obdecer? Quantos sonhos e desejos induzidos teremos que perseguir? Quantos precipícios e derrotas somos obrigados a evitar? Quantos gestos e palavras apropriadas iremos ter que pronunciar? Quantas tarefas e missões cumpridas serão suficientes? Quantos abandonos e esquecimentos nos pedirão? Quanto de nós nos deixarão utilizar?
Depois disso, quanta vida livre nos sobrará para, então, simplesmente viver?
(Oldmirror)
Posto assim,
não muito:
dois seres,
uma garrafa de vinho,
queijo do país,
sal, pão,
um quarto,
uma janela e uma porta,
lá fora, que chova,
chuva de longos fios,
e claro, cigarros.
Mas, ainda assim, de muitas noites
apenas uma ou duas vezes resulta,
como os grandes poemas de grandes poetas.
O mais é preparatório,
ou epílogo,
dor de cabeça,
ou espasmo de riso,
não se pode, mas deve-se,
é demasiado, mas insuficiente.
- Péter Kantór
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tantas perguntas, para tão pouco tempo de vida!