9/11/2006

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Não consigo. Não páro de olhar. Ontem esqueci-me de comer. Hoje esqueci-me de dormir. Sinto o cansaço tomar conta de mim, mas aquilo impede-me de me render. Ainda há luz. estava Apagada e já se acendeu. O carro já saiu mas já voltou. Não encontro as peças do meio. Tenho tentado, mas as cortinas não deixam que complete o cenário. Vejo sombras. Temo que seja do estado débil em que me deixei cair. Fumo demais. Bebo demais. Sonho demais. E tento, tento sempre encontrar as peças que faltam. O que há para além das sombras. Que vida se vive fora daqui. É longe. O barulho não chega até mim. Qual será o perfume. Que música se ouvirá. A felicidade morará ali? É que há muito que saiu deste quarto. Sempre soube que descera as escadas e atravessara rua. Não, o amor também saiu. Fê-lo da pior forma, atirou-se da janela. Volto a espreitar. Volto a beber. Não quero comer. Olho. Ainda há luz, ali. A que restava aqui mudou-se. Mas eu sei que é ali. Do outro lado da rua. Eu sei. É ali que tudo acontece, porque aqui nada há para acontecer. (Oldmirror)

Procura a maravilha.
Onde um beijo sabe a barcos e bruma.
No brilho redondo e jovem dos joelhos.
Na noite inclinada de melancolia.
Procura.
Procura a maravilha.

- Eugénio de Andrade

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