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Porque deixei de querer olhar as nuvens ou escutar o que o mar tem para me dizer. Abandonei o prazer de caminhar descalços na relva fresca de um Verão que já terminou. Troquei o gosto de um cigarro ou do silêncio da noite longa. Quero-me agora aqui. Será aqui que me sentirei em casa. Será aqui que viverei sem precisar de fugir ou procurar refúgio. Ficarei vazio para me voltar a encher deste pedaço de vida onde passei a existir, onde passei a morar, porque nunca morei, apenas habitei. Recusarei o sobressalto de ser feliz ou a felicidade que toquei levemente em cada folha que reli. Ficarei, existirei. Saberei apenas que existe o lugar onde estou, o lugar onde me deixo ficar; sentindo os dedos que me afagam, o conforto de um colo, o calor da pele macia e o cheiro que nada me cobra. (Oldmirror)
Os teus olhos
exigindo
ser bebidos
Os teus ombros
reclamando
nenhum manto
Os teus seios
pressupondo
tantos pomos
O teu ventre
recolhendo
o relâmpago.
- David Mourão-Ferreira
Etiquetas: David Mourão Ferreira
e assim vais vivendo, usando os dias vazios para traçar o caminho.
ccc: para ti, não vale a pena falar, pois não?
Pequenina: Todos cobramos, consciente ou inconscientemente...é o maior dos defeitos.
Gostei. Muito. Muito.
Beijo