9/28/2006

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E quando nada o fazia esperar, ela regressava. Voltava para lhe dizer que nada mudara, mesmo tendo mudado. Voltara para lhe dizer que não voltaria, que apenas tinha voltado para dizer que ainda vivia. E vivia uma nova vida, uma vida onde, de novo, ele não caberia. Naquela vida só caberia quem também tinha mudado. Com tantas mudanças, entrar naquela vida seria viver qualquer coisa nova e se era nova deixara de fazer sentido que aqueles que a viveram antes a voltassem a viver como se de uma coisa nova se tratasse. De novo o inatingível parecia estar de regresso. Então ali ficaram a trocar palavras sem que as palavras dissessem o que quer que fosse. Acabaram a falar por falar, sem que ela, recém-regressada e mudada tivesse mudado para algo mais arrojado. Na cabeça dele aquele que poderia parecer um regresso fugaz e inofensivo foi bem mais além. Na cabeça dele o regresso foi também uma visita a um passado onde tudo se mantinha intacto, exactamente como no dia em que a porta fechou e não se adivinhavam regressos, muito menos ao futuro. (Oldmirror)

Sabes o que acontece quando magoamos as pessoas? - disse Ammu. - Quando magoamos as pessoas, elas passam a gostar menos de nós. É isso que as palavras descuidadas fazem. Fazem as pessoas gostarem um pouco menos de nós.
Uma traça fria com tufos dorsais invulgarmente densos aterrou de leve no coração de Rahel. Deixando pele de galinha nos sítios onde as suas pernas geladas lhe tocaram. Seis pêlos arrepiados no coração descuidado de Rahel.
- Arundhati Roy

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3 Comments:

Blogger [ t ] said...

'Uma traça fria com tufos dorsais invulgarmente densos aterrou de leve no coração de Rahel. Deixando pele de galinha nos sítios onde as suas pernas geladas lhe tocaram. Seis pêlos arrepiados no coração descuidado de Rahel.'

tenho disto muitas vezes. qual o livro?

9/29/2006 02:42:00 da tarde  
Blogger oldmirror said...

O deus das pequenas coisas

9/29/2006 05:04:00 da tarde  
Blogger Aestranha said...

Ainda alguém me conseguirá de certeza explicar, no futuro, como é que mudando as pessoas conseguem esse feito fabuloso de "deixarem" de ser os mesmos que eram antes da suposta mudança... Como se, por exemplo, um carro que embateu num muro e ficou todo amachucado e deixou de andar tenha por isso deixado de ser um carro ou uma jarra que mudo da sala para o quarto deixasse de ser uma jarra por causa disso.
Eu não tenho 5 anos de idade mas sou a mesma que já teve 5 anos de idade... Isto de que falas é complicado...

Beijo

9/30/2006 07:27:00 da tarde  

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