10/12/2006

145



Surge em forma de anúncio solene: "deixarei o teu nevoeiro". Na verdade, não o poderá fazer. O nevoeiro entra-nos nos ossos, instala-se no corpo, tranforma-nos numa espécie de faróis que apenas se acendem quando ele aparace. O nevoeiro permite-nos a dúvida, a silhueta, a visão única de quem nunca se mostrará por inteiro. No nevoeiro podemos ser nós sem o sermos totalmente. O nevoeiro guarda segredos. "Deixarei o teu nevoeiro", é-nos dito sem que se explique como sobreviverá o corpo na transparência, na claridade de um dia que não permite arco-iris, apenas luz, muita luz, demasiada luz para uns olhos habituados à ténue presença e não à incómoda permanência. (Oldmirror)

Chega o momento
em que a vida de cada homem
é uma derrota assumida.
É uma verdade
que todos sabemos.

- Marguerite Yourcenar

Etiquetas:

6 Comments:

Blogger [teresa alves] said...

o nevoeiro traz-nos a história que não se inicia nem termina, com um fim. apenas aparecemos e voltamos a desaparecer. basta o bater dos olhos num movimento rápido de - nem abre nem fecha - num momento em que a sentes longe e ela desaparece. volta sem contornos já demasiado perto. a seguir, é a tua vez. o nevoeiro traz-nos a ilusão na imaginação dos sentidos. onde a vontade se culpa em imagens na fertilidade dos sentidos. preenche vazios interiores. o nevoeiro. lugares que desconhecemos ter. corredores e lâmpadas fundidas captadas pelo fumo. e o que é o fumo? e nos sinais o que se escreve? o tempo quer marcar o correr e a busca. até ela voltar a tropeçar em ti, porque já pode tudo sem nada. provavelmente deveria falar na primeira pessoa. não posso deixar o nevoeiro. sou apenas uma presa. tal como a partir de uma gota de tinta se largam palavras contra uma porta que teima em manter-se fechada, mas o fumo nunca me irá permitir chegar, porque só o toque me contará a verdade da porta. pelo caminho perco-me com tantas outras coisas... os corpos não se distinguem do real e do virtual, não se descolam, mostram-se como nós os queremos, num segundo mais direito de seguida um abraço que dispara a mão numa direcção. passamos afinal a sombras. talvez, sermos quem queremos sem nos esquecermos de nós(?). aqui não se exploram limites nem formas, não é a porta que interessa, não se fecha ela num objectivo. misturam-se espíritos e marcas de luzes. aqui o destino passa a ser a própria derrocada posta em destaque por um sonho. e o nevoeiro leva-nos a ele. é isso, um sonho. é a própria morte. seguida da vida. denso|cerrado esse nevoeiro e eu num baloiço em movimento entre ti e o que te quero. Mas o mar é profundo. Experimenta viver e morrer na palavra amor.

10/13/2006 01:05:00 da manhã  
Blogger Desassossegada said...

As derrotas nalguns homens são intrínsecas, é a queda que os apaixona.

10/14/2006 12:57:00 da manhã  
Blogger [teresa alves] said...

Verdade. e isso é-lhes essencial.

10/14/2006 11:07:00 da manhã  
Blogger oldmirror said...

macska: tem toda a razão. nem todos terão que almejar a vitória, o sucesso, o amor eterno encontrado. Há vidas que escolhem sobreviver ao invés de viver. Tudo escolhas legítimas e, julgo, perfeitamente compreensíveis e igualmente valiosas.

[t]: Há coisas que não chegamos a alcançar com palavras escorregadias que servem apenas para justificar escolhas que não temos a certeza de ter tomado convictamente.

10/15/2006 07:51:00 da tarde  
Blogger Desassossegada said...

Plenamente de acordo. A vitoria nem sequer é para quem a procura, mas sim para quem a merece!

10/16/2006 12:33:00 da manhã  
Blogger [teresa alves] said...

Existem faltas injustificadas e incertezas a todo o momento.

10/16/2006 01:26:00 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home

Estou no blog.com.pt - comunidade de bloggers em língua portuguesa
Oldmirror© 2005-2011 All Rights Reserved.