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Os braços alongam-se ao som de Stravinsky. Os dedos mexem-se independentes de tudo. O ondular do tronco suado e sedento pela cadência de fogo acompanha o pássaro que passou a habitar nele. Os olhos, ora fechados, ora abertos, pouco mais vêem que contornos. As pernas aceitam o convite da batuta e desdobram-se em combinações inventadas para quem caminha no céu. Por momentos, toda a nossa existência assenta nos pés doridos que suportam o prazer. Já não existo, apenas vôo, apenas sinto, apenas danço. Voltam os sonhos, as memórias, a leveza dos momentos onde a vida pôde esperar e o relógio se regia pela respiração absurda dominada pela música. O pássaro poisa, o fogo extingue-se, Stravinsky descansa, o corpo encolhe-se, os olhos não abrem, mas as lágrimas caem. (Oldmirror) A ferida fechou-se cansada. Restou o rochedo inexplicável.- Franz KafkaEtiquetas: Franz Kafka

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