Era o frio que sentia a entrar nos lençóis pretos quando a noite dava lugar ao dia que repetidamente davam o aviso: saíra antes de acordar. O hábito da fuga repetida era proporcional ao sonho com que encerrava a cerimónia da carne marinada pelo álcool, pelo tabaco e pelo suor com que alimentava o vício de recusar a solidão. Sonhava que acordaria sem que, por uma vez, os sinais de que naquela tinha existido vida não se resumiam ao cinzeiro a transbordar, ao whisky vertido nas páginas de um livro de Auden, ao bilhete de despedida ou à peça de roupa esquecida. Sonhava que os sinais de vida seriam, um dia, um corpo morno e cansado de onde escapava uma respiração profunda de prazer indefeso. (Oldmirror)A pele era o que de mais solitário havia no seu corpo.- Luís Miguel NavaEtiquetas: Luís Miguel Nava