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O ano acabou. Foi a última cruz no último dia da última folha do calendário. Mas não foi apenas isso. Pois não? Nunca o último segundo fora tão longo, nem a desilusão tão profunda, nem as palavras "nunca mais" tão sentidas. O ano acabou. Foi o último sopro que apagou a ínfima vela que iluminava de forma ténue o fundo do túnel. (Oldmirror)
Com o consentimento da neve
caminharei devagar.
Alguém haverá à espera junto do fogo
e eu, que estarei cega pelo frio,
farei paragens breves,
sacudirei o guarda-chuva e começarei de novo.
O único segredo é não sentir-se
imensamente cheio de verdades.
Não aceitar nunca os convites
que o nevoeiro
sugere ao fazer ninho com os seus disfarces
de paisagem feliz, de grandes sonhos.
Alguém haverá que diga, perdeu-se,
alguém sairá a procurar-me,
e levará o calor de uma garrafa
onde poderei mandar-te esta mensagem.
- Ana Merino
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