2/15/2010

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Sou indestrutível. Sou implacável. Não me deixo vencer por um qualquer joelho arranhado. Os meus inimigos são os maus e eles sentirão os meus poderes. Sou forte, bebi leite esta manhã e como a sopa sem me queixar. Sou indestrutível. Sou dos bons. Conheço o mundo ao virar da esquina e as grades da escola não me impedem de olhar a árvore do recreio. Sou indestrutível. Não deixarei morrer os bons. Sou indestrutível. Não tenho medo do meu pai, como a minha mãe. Sou indestrutível, pelo menos até ser homem. (Oldmirror)

2/07/2010

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Um dia gostava de sentir o silêncio. Um dia precisava de sentir o mundo parar. Um segundo bastaria para saber como é afinal um momento de paz. (Oldmirror)

Deixa-te estar na minha vida
Como um navio sobre o mar.
Se o vento sopra e rasga as velas
E a noite é gélida e comprida
E a voz ecoa das procelas,
Deixa-te estar na minha vida.
Se erguem as ondas mãos de espuma
Aos céus, em cólera incontida,
E o ar se tolda e cresce a bruma,
Deixa-te estar na minha vida.
À praia, um dia, erma e esquecida,
Hei, com amor, de te levar.
Deixa-te estar na minha vida.
Como um navio sobre o mar.
- João Cabral do Nascimento (1887-1978)

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Na intensa vertigem das somas, começo lentamente a subtrair até encontrar a perfeita equação cujo resultado, adivinho, será o zero. Após multiplicar, somar e com isso dividir, experimento casas decimais, zeros à esquerda e até testo os negativos, tudo para que o resultado acabe por impedir que a velocidade dos números se imponha fatalmente à necessidade de respirar. (Oldmirror)


Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém.
Compor o corpo, os objectos em sua função, sejam eles
A boca, os olhos, ou os lábios. Treinar-se a respirar
Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia.
Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta.
Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder
Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num
Objecto contundente e amaciá-lo com a cor. Rasgar
Num livro uma página estrategicamente aberta.
Entregar-se a espaços vacilantes. Ficar na dureza
Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra
Que te quer. Soprá-la para dentro de ti até que a dor alegre recomece.
- Maria Gabriela Llansol

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2/02/2010

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E de novo a armadilha dos abraços.
E de novo o enredo das delícias.
O rouco da garganta, os pés descalços
a pele alucinada de carícias.
As preces, os segredos, as risadas
no altar esplendoroso das ofertas.
De novo beijo a beijo as madrugadas
de novo seio a seio as descobertas.
Alcandorada no teu corpo imenso
teço um colar de gritos e silêncios
a ecoar no som dos precipícios.
E tudo o que me dás eu te devolvo.
E fazemos de novo, sempre novo
o amor total dos deuses e dos bichos.
- Rosa Lobato Faria

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2/01/2010

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Entre o fumo abre-se um pouco a cortina e desvendam-se pedaços de desejo por episódios. Uns a seguir aos outros revelam-se, no entanto, pouco saciadores de vontades e muito aguçadores da imaginação (Oldmirror)

Let's get physical...
- Olivia Newton-John

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