8/17/2005

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Na tentativa inglória de me entender, luto com a vontade de te ter e não te ter. Na tentativa desesperada de encontrar o caminho, sofro porque te deixei ir sem que um abraço impedisse que fosses. Preferi lutar comigo mesmo, preferi o eterno conflito interno que me diz quero e não quero. (Oldmirror)

Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria
Andámos dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nissonão faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso
- Mário Cesariny

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8/10/2005

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Há 82 anos que existes. Há 82 anos que fazem questão de te esquecer. Mas nunca nos deixaste sem uma palavra, não o querias, eu sei; mas mesmo assim roubamos-tas, são nossas também. Sabes, és bem mais que palavras e carne, sabes que também és emoções, sentimentos. Há 82 anos que nos ensinas a sentir melhor. Eles que esqueçam, nós cá estaremos para continuarmos a roubar-te. (Oldmirror)

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que seia não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento
Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdadea machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal
- Mário Cesariny

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8/04/2005

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[Foto OTR]

Não posso chorar porque me falta quem me seque as lágrimas. Não posso sorrir porque não tenho quem me faça bem. Não posso viver porque não há nada que me impeça de sobreviver. Neste pedaço de fuga vou resistindo, vou construindo o que não posso quando deste pedaço de fuga me afasto. (Oldmirror)

I'm afraid I've lost the piece of me
I need the most you see
This puzzle is really just about the need
To be somebody
I'm afraid I'm not all that you see
All along the coast of me
I'm camouflaged, a desert mirage
A nobody
But you came so close and I assumed

You were looking
For the piece of yourself that's lost
It is the hiding place inside everybody
And though we love to numb the pain
We come to learn that it's in vain
Pain is our mother
She makes us recognize each other
C'mon now child don't cry

C'mon now child don't cry
Let's give it one more try
C'mon now child don't cry
Sometimes I feel so all alone

Here in this city I call my home
They say, Hey, you're one of us
Funny, I should feel so anonymous
But I'm drawn to you
And that still small voice is talking too
And that's the voice that so seldom can get through
You can't put no bandaid on this cancer

Like a twenty-dollar bill
For a topless dancer
You need questions
Forget about the answers
Do you really wanna die this way
That's the trouble with you and me

We always hit the bottom 'fore we get set free
I'm so far down
I'm beginning to breathe
C'mon now child don't cry

C'mon now child don't cry
Let's give it one more try
C'mon now child don't cry
Cuz we're just too young to die
- Over The Rhine

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8/03/2005

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E ela. Mulher. As promessas. O rosto. Nunca te menti. Se te disse o céu, era o céu; se te disse sol ou água, era sol ou água; se te disse manhã, era a manhã dos teus olhos a enganar-me. Sem que os teus olhos me enganassem. O engano de uma manhã que nasceu nos teus olhos. Sonhámos. Sonhámos e fomos cegos. E não tenho medo da palavra amor. Não tenho medo das palavras. Vê como digo morte: morte morte morte morte morte. Repito-a assim e roubo-lhe o sentido. Roubo morte à morte. Roubo trevas e solidão. Morte morte morte morte morte. Não tenho medo das palavras. Torno a ver os teus olhos diante dos meus, manhã, e quero que esta seja a nossa última palavra: amor.
- José Luís Peixoto

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