12/30/2010

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Ano após ano, o balanço termina de forma semelhante: somos cada vez menos aquilo que queríamos ter sido, somos cada vez menos aquilo que uma vez sonhamos vir a ser. Ano após anos recomeçamos decididos. Ano após anos, vamos perdendo a força à medida que a cabeça vai chocando contra a parede chamada realidade. Anos após ano aumentam os livros que precisamos de ler e diminui o tempo que nos sobra para o fazer. Ano após ano chegamos à conclusão que as grandes músicas, os grandes quadros, os grandes bailados já foram feitos e que daqui para a frente o desafio faz-se mais da revisão da matéria dada do que da partida à descoberta. Ano após ano são menos os motivos que nos levam a subir as persianas. (Oldmirror)

Morava sozinho. Morreu de repente, rodeado por milhares de livros, documentos, fotos e testemunhos de gratidão de instituições científicas. Quando examinaram tudo aquilo, encontraram um papel azul com o início de uma confissão: "Eu queria ter sido actor".
- David Lagmanovich

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12/03/2010

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A definhar. Embriagamo-nos com ilusões momentâneas, forçamo-nos a esquecer e ocasionalmente esbracejamos, sem que aceitemos que a areia movediça em que nos movemos engole-nos devagar. Os rostos fecham-se um pouco mais, as lágrimas invadem o travesseiro em surdina para logo depois voltarmos a caminhar, num desesperado esforço de manter rotinas que nos impeçam de olhar de frente a tempestade que se abate em nós. Aos poucos, vão-se os anéis, vai-se o orgulho, engolimos em seco e prosseguimos com o que resta das nossas forças insuficientes para voltar a pintar de esperança o que nos sobra, suficientes para atenuar uma dor que nos trespassa os ossos, que nos trespassa a dimensão. Perdidos. Envergonhados. Olhando a história sem saber como nos trouxe ao presente. (Oldmirror)

Trabalhei muitos anos perto de casa, ia a pé, sozinha com os meus pensamentos e com a esquadria dos passeios. Quando mudei para a Boavista passei a utilizar o metro; ao princípio custou-me enfrentar tantos rostos próximos, depois habituei-me e aprendi o prazer de observar as pessoas, tão diferentes umas das outras (o metro consegue a façanha de reunir várias classes sociais e até mesmo aqueles que estão fora das classes), sérias e isoladas com os seus objectos (telemóveis, leitores de música, jornais, revistas e alguns livros). Mas o meu novo emprego fica fora da alçada da modernidade do metro, por isso já há alguns meses que faço o percurso antas-cordoaria ou carregal de autocarro. As pessoas que andam de autocarro são de outro género, varia um bocado com as linhas mas, de uma maneira geral, são mais pobres, mais velhas e mais faladoras. Ouço sobretudo queixas de mulheres: a falta de dinheiro, a ganância dos patrões, a falta de solidariedade dos colegas, a violência surda em casa, as doenças constantes, as correrias para os centros de saúde, o abandono, as casas frias. São imagens tristes mas serenas, contadas com palavras imperfeitas, que se opõem à histeria dos telejornais. Qualquer coisa que o cinema poderia captar, se andasse ainda na rua.
- C. (Quando os dias também são...infelizes)
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