
Bom, muito bom, era aquilo que lhe ecoava na cabeça. Ao acordar parecera-lhe uma espécie de sonho que acontecera à velocidade da luz. Tudo demasiado rápido, tudo demasiado sentido, tudo demasiado intenso, tudo demasiado vertiginoso para que houvesse tempo de saborear. Mas tinha a certeza que o saboreara, que gostara, que fora real, que acontecera. Desejava que o tempo fosse mais tempo. Sabia que que agora seria uma questão de tempo. Tempo para ficar, tempo para partir, tempo para saber em que gaveta temporal colocaria aquele pedaço de tempo que passara demasiado veloz em direcção à sua pele, aos seus sentidos, à sua cabeça. Mas agora não tinha tempo e por isso o denso episódio continuava a gravitar num vazio temporal até que finalmente o tempo ditasse qual seria o seu derradeiro destino. (Oldmirror)
Ouvi falar de gente civilizada,
os matrimónios temperados por conversas, elegantes e
honestos, racionais. Mas tu e eu somos
selvagens. Tu chegas com um saco,
entregas-mo em silêncio.
Sei logo que é Porco Moo Shu pelo cheiro
e percebo a mensagem: dei-te imenso
prazer ontem à noite. Sentamo-nos
tranquilamente, lado a lado, para comer,
os crepes compridos suspensos a entornar,
o molho fragrante a escorrer,
e de esguelha olhamos um para o outro, sem palavras,
os cantos dos olhos limpos como pontas de lança
pousadas no parapeito para mostrar
que aqui um amigo se senta com um amigo.
- Sharon Olds
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