Porque existe solidão de ambos os lados da barricada erigida em redor do que somos, da protecção que procuramos, do medo de sermos vulneráveis. Porque o que mostramos é surpérfluo e cá dentro a aridez, se tomasse conta da paisagem, devastaria os sonhos que se aproximassem. Secos, pintados de azul; vazios, pintados de rosa; negros ou cinzentos para os escassos olhos que olham com o coração. (Oldmirror)... e não temos o que secretamente ansiávamos, de vez em quando momentos tão vazios, de vez em quando, mesmo no meio dos outros, uma solidão tão grande, um desamparo, uma sensação de queda, esta dificuldade em respirar, porque a mobília sufoca, que vem e desaparece e volta, de vez em quando, sem motivo, vontade de chorar, não lágrimas grandes, não soluços, uma coisa vaga, uma pergunta– E agora?sem resposta, caras familiares que se tornam estranhas, se te abraçar continuo sozinho, o que se passa comigo, o que se passa connosco, o relógio prossegue– Já é tarde...- António Lobo AntunesEtiquetas: António Lobo Antunes