3/27/2010
375
No tempo do optimismo, dos tons pintados de branco, das certezas de que tudo correrá bem. Viveria na época onde arriscar pareceria natural, crucial; onde tudo se resolveria e os finais felizes passavam além da grande tela. O tempo em que o fogo de artifício não existia no ar, ofuscando as estrelas, mas no estômago acelerando o coração. Com o tempo parado no tempo, sem que os ponteiros do relógio voluntariamente se voltassem contra nós, agitando-se o mais depressa possível para que nunca cheguemos a ficar fora do tempo. [Oldmirror]
...se pudéssemos estar apenas um pouco fora de tempo, em que tempo estaríamos?
- "Speechless", still, after all these years
3/22/2010
374
Pareceu-me urgente dizer-te que me ensinaste a olhar a poesia de persianas abertas e com o sol a bater-me na cara. Ofereceste-me a luz sob a forma de sorriso, de textos radiosos e imagens coloridas. Pareceu-me urgente recuperar-te o brilho, o único que não me fere sempre que saio deste canto para me certificar que ainda há mundo lá por fora. Pareceu-me urgente derrubar todos os postes da estrada. Fosse eu capaz de tamanha empreitada. Mas tenho uma pequena lanterna, nada comparável à tua luz, mas tem pilhas e ainda acende. [Oldmirror]
a pensar que
o desgosto é uma estrada por cumprir
dentro de cada um.
começa sem contar
(como se bate contra um poste)
e nunca, nunca, nunca
acaba.
apenas esmorece.
- a semi-cerrar os olhos mas sem evitar
a areia que chega no vento.
3/19/2010
373
E aos poucos diminui a urgência, cresce a paciência. Gota a gota saboreia-se, não se engole. O fumo dança na boca já sem invadir, sem pedir licença, os pulmões. Caminha-se mais, corre-se menos. Chora-se mais, chora-se mesmo. Ri-se menos, ri-se mesmo. Aumenta a angústia porque aumenta a certeza que há demasiadas coisas de capital importância e escasso tempo para as olhar, com tempo; para as olhar, sequer. Aos poucos somos mais pele, menos carne; mais toque, menos...toque. Conhecemos o quarto acorde, exigimos o quinto e o sexto. Aos poucos o coração bate menos, mas mais. Viveremos menos, mas mais. Aos poucos conseguimos parar, para avançar... [Oldmirror]
Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,
agora lês saramago & coisas assim
eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.
O café agora é um banco, tu professora do liceu:
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos de andar como dantes,
chamando do fundo do meu coração.
- Manuel António Pina
Etiquetas: Manuel António Pina
3/02/2010
372
Seria capaz de matar o Mundo. Porque o Mundo irá matar-me mal possa. Não o matei ainda porque sou incapaz de escolher quem avisarei que ele irá morrer. Vou poupá-lo ao sofrimento, escolherei uma morte rápida, mais rápida do que a que ele escolheu para me matar a mim. E depois de o matar, finalmente viverei. (Oldmirror)
Truth is, everybody is going to hurt you; you just gotta find the ones worth suffering for.
- Bob Marley, após uma "Falha no Sistema"
Etiquetas: Bandas sonoras