Para escrever tenho que amar alguém, detestar alguém, ter pena de alguém mesmo que não exista exactamente como o escrevo.
5/19/2006
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Pouco há a provar. Pouco haverá a anunciar. Pouco haverá a fazer sem que o precisemos de anunciar. Os passos dados com a teimosia de quem terá que ser capaz não serão mais do que olhares distantes que buscam os olhos perdidos no passado que não foram abandonados. De nada valerá cada pedra assente no muro de uma nova que se constrói porque são essas as pedras, é esse o muro que queríamos ver um dia ruir e sem hesitar derrubariamos para podermos recuperar o abraço de um passado que queriamos futuro. Cada lençol usado será igual ao lençol partilhado quando a porta do Mundo foi fechada. E teimando seguimos em frente, acompanhados, fazendo de cada gesto uma dissimulada solidão que recusamos. - Viste?! Estou a seguir em frente! - Não estamos. A história nunca mudará porque rasgamos as folhas que queremos esquecer mas que são as únicas onde as personagens ganham vida. (Oldmirror)
Noites há, em que, sentado à lareira, no quarto mais resguardado de todos, sinto subitamente a morte cercar-me: no fogo, nos objectos ponteagudos que me rodeiam, no peso do texto e na massa das paredes; na água, na neve, no calor, no meu sangue. Pergunto-me então o que vem a ser a nossa muito humana sensação de segurança, e percebo que não passa de um consolo para o facto de a morte ser o que há de mais próximo à vida.
A vida só é curta se a coloco no patíbulo do tempo. As suas possibilidades só são limitadas se me ponho a contar o número de palavras ou livros que a morte me dará ainda tempo de acender. Mas por que me hei-de eu pôr a contar? No fundo, o tempo de nada serve, inútil instrumento de medida que só regista o que a vida já me trouxe. Na verdade nada do que é importante e acontece e me faz vivo, tem a ver com o tempo. O encontro com um ser amado, uma carícia na pele, a ajuda no momento crítico, a voz solta de uma criança, o frio gume da beleza - nada disso tem horas e minutos. Tudo se passa como se não houvesse tempo. Que importa se a beleza é minha durante um segundo ou por cem anos? A felicidade não só se situa à margem do tempo, como nega toda a relação deste com a vida.
Estavam ali como se olhassem para um Deus. Esperavam por palavras, por uma voz que os fizesse sonhar, que lhes dissesse quais são os caminhos errados por onde seguir em busca de uma infelicidade ambicionada. Esperavam por mais, sempre mais, com a sede de quem precisa de descer ao Inferno minutos antes de regressar à vida lá em cima. Estavam dispostos a seguir uma qualquer voz que transformasse os seus corpos em seres vivos, num composto de sentidos e emoções que os fariam sentir-se completos. Buscavam, no fundo, uma vida entregando a sua própria vida. Não esperavam era que a voz não se fizesse ouvir. Ainda assim bastava-lhes a voz sem voz pois o importante era que existisse. Não estavam dispostos a regressar à vida lá em cima de sentidos e emoções a abanar. Não estavam dispostos a passar um minuto que fosse sem provar aquele Inferno, sem cheirar aquele húmido escuro, sem tocar uma qualquer pele demasiado vulgar, sem ouvir o que nunca chegou a ser dito, sem ver que afinal o que viam era apenas aquilo, apenas aquilo.(Oldmirror)
Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado. Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos, com os livros atrás a arder para toda a eternidade. Não os chamo, e eles voltam-se profundamente dentro do fogo. – Temos um talento doloroso e obscuro. Construímos um lugar de silêncio. De paixão.
Nada fazia prever que o buraco se tornasse num local bem frequentado. Surgem os suores frios quando a ideia de arrumar o lixo e limpar a mesa começa a ser recorrente.(Oldmirror)
Agora já me amaste por um dia inteiro. Amanhã quando partires, o que dirás? Irás antedatar algum voto mais recente? Ou dizer que, agora, Já não somos exactamente os mesmos de antes? Ou que as juras, feitas por medo reverencial Ao Amor e à sua ira, se podem renegar? Ou, como verás mortes desligam veros casamentos, À imagem destes, os contratos dos amantes Unem só até que o sono, imagem da morte, os separe? Para justificar teus próprios fins, Tendo proposto mudança e falsidade, não terás tu Outro meio senão a falsidade para seres sincera? Lunática vã, contra tais evasivas eu poderia Argumentar e ganhar, se quisesse, O que me abstenho de fazer Porque, amanhã, poderei vir a pensar como tu.
Desesperadamente procuras quem te compre o coração, te alugue a vida e ocupe o corpo. Desesperadamente, porque te sentes sem tempo, aceitas a proposta mais baixa e a pressa impede-te de ir a leilão. Amas permanentemente porque não te podes dar ao luxo de esperar, muito menos estás disponível para lutar. Desesperadamente vais sentindo o peso de olhares para os lados, de comparares os lados. A uma velocidade vertiginosa assaltas corações onde te instalas por pouco tempo e nem sabes porquê. Não sabes que há corações que sentem essa tua pressa desesperada em construires em terrenos que ainda não são teus, não sabes que há corações que não se enganam com o bater do teu relógio porque os deles batem incomparavelmente mais devagar, porque há corações que precisam de luta e gostam de lutar e fazem-nos porque não têm pressa, a tua pressa. E enquanto corres no meio da multidão a quem desesperadamente procuras entregar-te, nos minutos, poucos, em que páras, nos momentos em que acordas e nos minutos em que adormeces, porque as defesas abrandam e com elas a pressa, sentes uma insuportável invasão da solidão, uma insurdecedora infelicidade que te faz arrastar pela arquitectura de uma cidade que tem pressa, tem corações, mas nem todos para vender aos desbarato.(Oldmirror) Guardamos na cave a base da árvore de Natal. E tu? Eu dentro do peito. Porém, ninguém vive assim. E as bolas, as velas e os outros restantes enfeites?
Porque não consigo viver de elogios rasgados à minha genialidade nem convivo com o comum admirável gesto de escrever com o coração escondo-me na frieza dos sentimentos abandonados pelos que insistem em ser felizes. Aproprio-me do lixo sentimental e escolho viver com os defeitos colados por baixo do tampo da mesa onde apoiam os cotovelos aqueles para quem as atenções se viram como holofotes que iluminam que já escolheu o brilho da vida. Sou um afortunado, porque são mais os restos e os defeitos abandonados que meticulosamente recolho e me alimentam do que os elogios e as virtudes que são disputados pelas brilhantes e reluzentes personalidades que com prazer deixo passarem por cima de mim cortado a meta em primeiro e recolhendo uma vez mais os aplausos viciantes. Vive-se bem cá em baixo. (Oldmirror)
Estava aqui sentado e sabes o que cogitava para comigo? Se não tiver fé na vida, se perder a confiança na minha mulher amada, se perder a fé na ordem das coisas e se, pelo contrário, me convencer de que tudo é um caos desordenado, maldito e, talvez, diabólico, se me atingirem todos os horrores da desilusão humana, desejarei na mesma viver, e já que levei à boca esta taça, não a largarei até que beba a última gota! Aliás, aos trinta anos sou capaz de largar a taça, mesmo que não a tenha bebido até ao fim, e de me afastar... não sei para onde. Mas, até aos trinta, sei muito bem que a minha juventude vencera tudo, vencera qualquer desilusão, qualquer repugnância pela vida. Tenho perguntado a mim mesmo muitas vezes: haverá no mundo um desespero que possa vencer em mim esta sede de vida, frenética e, talvez, indecente? Cheguei à conclusão de que, pelos vistos, não existe, pelo menos ate aos tais trinta anos; e, ao chegar lá, repito, talvez já não anseie por nada, assim me parece.
I thought that you knew it all Well you've seen it ten times before. I thought that you had it down With both your feet on the ground. I love slow...slow but deep. Feigned affections wash over me. Dream on my dear And renounce temporal obligations. Dream on my dear It's a sleep from which you may not awaken. You build me up then you knock me down. You play the fool while I play the clown. We keep time to the beat of an old slave drum. You raise my hopes then you raise the odds You tell me that I dream too much Now I'm serving time in disillusionment. I don't believe you anymore...I don't believe you. I thought that I knew it all I'd seen all the signs before. I thought that you were the one In darkness my heart was won. You build me up then you knock me down. You play the fool while I play the clown. We keep time to the beat of an old slave drum. You raise my hopes then you raise the odds You tell me that I dream too much Now I'm serving time in a domestic graveyard. I don't believe you anymore...I don't believe you. Never let it be said I was untrue I never found a home inside of you. Never let it be said I was untrue I gave you all my time.
Letras que provocam o arrepio da semelhança de sentimentos e emoções. Palavras que perfuram uma existência que acabamos por reconhecer ser a mesma nos dois pólos opostos. Frases que saltam de colo em colo por serem demasiado sentidas para se deixarem estar na origem. Textos que pedem para que os tiremos daí, para que os tiremos daqui, para que os deixemos voar. Porque na distância continuamos a encontrar pontes que nos pedem que as atravessemos. Continuamos a encontrar cordas que nos amarram mas não nos aproximam sabendo nós que nunca estaremos longe.(Oldmirror)
Quando leio o rosto de um homem é mais claro que o seu pensamento, o seu nome mais profundo que a escuridão dos sentimentos onde está fechado... o teu sono é todo o crepúsculo que resta
Embalada pelas palavras renascidas pela mão de Lobo Antunes garantiste-me que um dia amarias uma pedra. Vencida pelo cansaço, desististe. Sedenta de emoções e estranhos sentimentos que se cravem nas tuas telas pela noite dentro informaste-me que não sou o que escrevo. Adormecida pela distância cravaste as tintas na tela misturaste-as com as emoções e sentimentos que decifraste mas que não viveste. Preencheste a vermelho esperança o branco deixado por uma noite incompleta onde eu fui mais eu e tu menos tu. Conformada, trocaste a Batalha não acabada por um qualquer aroma a café frio numa qualquer tarde de Maio resguardada por uma qualquer mesa protectora. As horas passam. O tempo esgota-se. (Oldmirror)
Eternidades passam por ti e morrem, uma carta toca os teus dedos incólumes ainda, a fronte resplandecente aproxima-se em acrobacias e acama-se em odores, rumores.