7/29/2008

279




Há códigos que nos ficam registados na pele, na memória. Indecifráveis, secretos a quem não lê as barras, a quem não viu a chave, a quem recusa utiliza-la ou não reparou que já tem a chave na mão. (Oldmirror)

O silêncio é doloroso. Mas é no silêncio que as coisas tomam forma; e, em alguns períodos da nossa existência, nada mais podemos fazer senão esperar. Dentro de cada um, nas profundezas do nosso ser, há uma força que vê e escuta o que, no entanto, não podemos entender. Tudo aquilo que somos hoje nasce do silêncio de ontem.

- Kahlil Gibran

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7/28/2008

278



Há um turbilhão de uma vida que os olhos não deixam transparecer. Há um corpo que ferve, queimando apenas por dentro. Há uma vida que busca uma bússola sem no fundo ter perdido o Norte. limpidez. Há vontade de tudo ter sem tudo querer. Há oferta de pequenos diamantes por polir que nem são para polir. serenidade. Há um vagaroso cerrar de olhos e uma mão que honestamente afaga um rosto e que se afaga a si própria. Há entrelinhas que permanecem nas entrelinhas enquanto as linhas escasseiam para tão grande sensação de admiração. Ainda restam ilhas onde somos capazes de viver. (Oldmirror)

... je pense à lui tout d'un coup, c'est
un homme qui doit faire beaucoup l'amour,
c'est un homme qui a peur, il doit faire
beaucoup l'amour contre la peur...
On se regarde. Il comprend ce que je viens de dire...
- Marguerite Duras

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7/25/2008

277




Buscando a luz na escuridão dos corpos, buscando o caminho a trilhar na solidão dos toques, alcançando a superfície nas profundezas da emoção, afogando mágoas no mar alto dos sentimentos. Antes da morte há uma vida para viver. Antes do cansaço, há suor para soltar. Antes de tudo há um nada onde é preciso chegar e outro nada onde se acaba por chegar. (Oldmirror)

Eu queria descrever a mais simples das emoções
alegria ou tristeza
mas não como outros o fazem
invocando raios de sol ou chuva
Eu queria descrever a luz
que cresce dentro de mim
mas que não se assemelha
a nenhuma estrela
porque não é tão brilhante
nem tão pura
e é incerta.
Eu queria descrever a coragem
sem arrastar um leão de pó atrás de mim
e a ansiedade
sem agitar um copo cheio de água
dito de outro modo
daria todas as metáfora
sem troca de uma só palavra
do meu peito arrancaria uma costela
por uma só palavra
sufocada dentro das fronteiras
da minha pele
mas aparentemente isso não é possível
e para dizer apenas – eu amo
ando às voltas como um louco
apanhando pássaros e pássaros com as mãos
e a minha ternura
que afinal não é feita de água
pergunta à água por um rosto
e a raiva
diferente do fogo
pede ao fogo
uma língua eloquente
e nada é nítido
e nada é inteiramente nítido
em mim
cavalheiro de cabelos brancos
separação de uma vez para sempre
e disse
isto está no poema
isto é o objecto
caímos no sono
com uma mão debaixo da cabeça
e a outra numa pilha de planetas
os nossos pés abandonam-nos
e provam a terra
com as suas raízes subtis
que despedaçamos dolorosamente
na manhã seguinte
- Zbigniew Herbert

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7/24/2008

276



Num cárcere voluntário, a vida pintada de cinzento quando as cores disponíveis iam bem mais longe do que as primárias, a reclusão imposta a um peito que renunciou à primeira bala, a auto-flagelação desenhada por uma mão incapaz de se estender e agarrar os destroços que boiam ainda que sem destino, a recusa de olhar para a frente sem vislumbrar a perpétua sentença, a ortodoxia do sofrimento, o olhar para uma vida sem aceitar que é feita de ramos, muitos ramos, de raízes muitas raízes, todas elas sequiosas de água, todas elas insusbstituíveis para que a árvore se mantenha verdadeiramente de pé.
Eis um retrato de uma árvore que morreu de pé e nada fez para se manter viva. Eis um retrato de uma árvore que se enche de vaidade por estar de pé ainda que morta, esquecendo-se que de nada vale manter-se em pé estando voluntariamente morta. (Oldmirror)

7/13/2008

275



Não foram precisas armas para que matasses a esperança. Não foram precisas balas para que o disparo fosse fatal. Não foi precisa pontaria para acertares no alvo. Numa só frase, num só sono, numa só hesitação caímos por terra, morremo-nos, e assim ficaremos porque esgotamos o nosso sétimo dia, acabamos com as nossas sete vidas. (Oldmirror)

7/07/2008

274



A cada bala cravada no peito, surge o suspiro. Há frio, há fraqueza, há visão turva, há o alívio. Não há dor, não muita. Há ardor, há respiração ofegante, há cansaço, há o fim. A cada bala cravada no peito, surge a despedida. Há palavras pensadas, nunca ditas; há lembranças que não ficarão para depois, há gestos adiados impossíveis de completar agora. Os olhos pedem tréguas, os sentidos já descansam, a boca aguarda o último beijo, o coração que outrora batera forte tem sono, dormirá. O corpo pára. Já não precisa de mais nada. Não fora isso que sempre procurara? (Oldmirror)

7/05/2008

273

O romantismo em 2007
"1 hora a andar pela tua rua no Google Earth."

O romantismo em 2008
"Procurar os teus comentários nos outros blogs."
- Bruno Sena Martins

Debaixo do colchão tenho guardado
o coração mais limpo desta terra
como um peixe lavado pela água
da chuva que me alaga interiormente
Acordo cada dia com um corpo
que não aquele com que me deitei
e nunca sei ao certo se sou hoje
o projecto ou memória do que fui
Abraço os braços fortes mas exactos
que à noite me levaram onde estou
e, bebendo café, leio nas folhas
das árvores do parque o tempo que fará
Depois irei ali além das pontes
vender, comprar, trocar, a vida toda acesa;
mas com cuidado, para não ferir
as minhas mãos astutas de princesa.
- António Franco Alexandre

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7/03/2008

272



Sabia quem era Dorian Gray, no entanto, havia dias em que acordava disposto a tomar banho numa banheira que transbordava de narcisismo e assim compensar o restante tempo em que fazia da sombra a cama onde jazia. (Oldmirror)

Would you fuck me?
I'd fuck me.
I would fuck me so hard!!
- "Bufallo Bill", Silent of The Lambs

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7/01/2008

271



Sem ruído, abre a arca devagar. Sente medo de espreitar. Custa-lhe ainda entender que sempre ali estivera, quase perto, e sempre a procurara. Agarra-a como se de cristal se tratasse. Ergue a tampa e vê-os. Ali estavam estavam eles...os sonhos. Existia, afinal, a arca dos sonhos. Ainda precisava de os reconhecer, saber interpreta-los, saber como lhes tocar, entender quais poderia reclamar como seus. Estavam ali, na arca, os sonhos. Pensava agora que guardaria só para si aquele baú que sempre procurara. Pensava agora que precisaria de tempo para aprender a mexer no tesouro delicado e desejado. A arca dos sonhos era sua. A tampa fora aberta. Vira-os lá, estavam lá todos. Agora, devagar, iria conta-los, classifica-los, saber mima-los para no fim, a arca e os sonhos deixassem de ser um sonho. (Oldmirror)

Alguma vez amaste
Pelo prazer puro
De amar
Deste porventura já
Uma dentada numa maçã
Pelo sabor do fruto
A sua doçura e sabor
Perdeste muitas vezes o Norte?
Sim, já amei
Pelo prazer de amar
Mas a maçã era dura
E rachei a dentadura
Essas paixões imaturas
Esses amores indigestos
Muitas vezes me fizeram
Cair doente
Mas um amor que dura
Deixa os amantes exaustos
E os seus beijos passados
Apoderecem-nos a língua
Mas os amores fugidíos
Conhecem tão fúteis febres
E os seus beijos tão verdes
Esfolam-se contra os lábios
Porque se quiseres amar
Pelo puro prazer do amor
O verme da maçã
Pode escapar-se pelos dentes
E comer-te o coração
O cérebro e tudo o resto
Engelham-nos lentamente
Mas quando ousamos amar
Pelo puro prazer do amor
Esse verme da maçã
Que nos escapa pelos dentes
Pode o coração perfurmar-nos
Bem assim como o cérebro
E deixar-nos
O seu aroma cá dentro
Mas os amores fugidios
Vêem tão fúteis esforços
As carícias passageiras
Podem gastar-nos o corpo
Mas um amor que dura
Aos amantes menos belos
As carícias à medida
Dos rumos da nossa pele.
-"Canções de Amor", filme.

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