12/31/2009

360



Que querem que vos diga? 2010 existirá tanto como 2009. (Oldmirror)

You have seven more seconds to decipher your life,
before my tongue becomes a blade and your brain gets sliced... i warned you before.
- Otep

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12/30/2009

359



Um dia provarei a delicadeza e saberei afagar sem deixar ferida. Haverá o momento em que tudo saberei sobre ser, em que tudo conhecerei sobre sentir. Um dia encontrarei o mapa que me levará até onde pertenço. (Oldmirror)

É alarmante ser-se acariciado quando se espera ser ferido.
- Bernard-Marie Koltès colhido após uma "trincadela ácida"

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12/18/2009

358



Há amores para sempre. Amores que não nos saem do peito mesmo depois de deixarem de ser amores. Amores que não são únicos. Amores a cores, a cheiros, a toques, a livros, palavras, poemas, prosas, filmes, peças, bailados, pessoas. Há poucos amores no meu peito, na minha memória, mas há demasiados amores eternos. E há um mais eterno do que os outros. Aquele que me fez ler a poesia mais luminosa, o único que sem dar por isso irradia azul celeste, que descreve a vida com tamanha felicidade mesmo quando de infelicidade se trata que quase obriga ao emocionado verter de lágrima. Há um amor desses eternos que gosta da vida e nos convence a gostar dela. Acho que até o mais soluçado choro intenso tem nele uma estranha luz de felicidade. Por isso é eterno. Por isso o sigo, por isso é nele que, por impulso, vou buscar um pouco de claridade. Há amores mais amores, amores que não o sendo, sempre o serão. Eu tenho alguns, .um. mais que os outros. (Oldmirror)

Tal como às vezes entramos num quarto, sem saber porquê,
e depois temos de voltar atrás seguindo o rasto da nossa intenção,
tal como conseguimos tirar uma coisa do armário sem tactear
e só depois de a agarrarmos ficamos a saber o que é,
tal como pegamos num embrulho para o levarmos a algum lado
e, ao sairmos, pensamos sempre com um susto
que somos leves de mais, tal como, enquanto esperamos,
nos apaixonamos uns minutos loucamente por uma cara nova,
mas somos afinal nós quem mais espera,
tal como sabemos: este lugar lembra-nos algo mas não sabemos o quê,
e nos ocorre um cheiro qualquer, em forma de recordação,
tal como sabemos de quem devemos desconfiar
e em quem podemos confiar, com quem nos podemos deitar,
é assim, acho, como os animais pensam, conhecem o caminho.
- Judith Herzberg

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12/12/2009

357



Inventamos a mudança e sonhamos com o regresso. Provocamos reviravoltas mas rodamos 360 graus. Agitamo-nos para pedirmos paz. Fazemos curvas para chegarmos à estabilidade. Sentamo-nos para ser mais rápido. Não contemplamos quando voamos. Deixamos a vertigem como legado. (Oldmirror)

Os objectos inanimados estão sempre em ordem e nós infelizmente não temos nada a censurar-lhes. Nunca vi uma poltrona trocar de pé ou uma cama erguer-se nas pernas traseiras. E as mesas, mesmo quando estão fatigadas, não se põem de joelhos. Suspeito que os objectos se comportam assim por razões pedagógicas: para nos censurarem constantemente pela nossa instabilidade.
- Zbigniew Herbert

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12/07/2009

356



E por longos momentos saio da vida e vejo-a de fora. Olha-a longe, observo-lhe o movimento, adivinho-lhe os passos. Aproveito cada pedaço de ar que me resta para ficar de fora antes de ter que me voltar a entregar a ela e ficar apenas o suficiente para tornar a encher os pulmões e sair de novo. É tão melhor a vida fora da vida. (Oldmirror)

Ahora me dejen tranquilo.
Ahora se acostumbren sin mí.
Yo voy a cerrar los ojos
Y sólo quiero cinco cosas,
cinco raices preferidas.
Una es el amor sin fin.
Lo segundo es ver el otoño.
No puedo ser sin que las hojas
vuelen y vuelvan a la tierra.
Lo tercero es el grave invierno,
la lluvia que amé, la cariciadel fuego en el frío silvestre.
En cuarto lugar el verano
redondo como una sandía.
La quinta cosa son tus ojos.
- Pablo Neruda

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