1/30/2006

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Quero saber o que vais fazer quando gastares o verbo gostar. Gostava de saber se depois terás coragem de o dizer, se o dirás quando o gastares. O tempo tem sido pouco, mesmo assim não o evito e guardo-te em mim. Faço-o sem saber muito bem porquê. Talvez porque às vezes te sinto perto. Tanto que já és amor de uma forma não clara. Não sigo os conselhos do tempo e deixo-me levar, a mim e às borboletas que me habitam, para onde o futuro quiser. Mas há uma coisa que te peço. Não deixes pedaços do teu coração nas minhas mãos porque não consigo segurá-los.

1/27/2006

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Esse pedaço de corpo que tantos nos inquieta. Esse pedaço de carne que tudo decide, que tudo resolve e acaba vencendo. Escravizados por nós próprios vamos obdecendo aos seus caprichos tentando disfarçar a ausência de autoridade com escudos a que chamamos razão que mais não servem do que para adiar a inevitável ordem final desse minúsculo músculo a que dificilmente deixamos de prestar vassalagem. Antes existesse a pedra, antes existessem pedaços de areia a quem o mar se encarregaria de remover. (Oldmirror)

ESTRAGON: I hear something.
POZZO: Where?
VLADIMIR: It's the heart.
POZZO: (disappointed). Damnation!

HAMM: Last night I saw inside my breast. There was a big sore.
CLOV: Pah! You saw your heart.
HAMM: No, it was living.

- Samuel Beckett

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1/26/2006

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And if I show you my dark side
will you still hold me tonight
and if I open my heart to you
and show you my weak side
what would you do?

- Pink Floyd

A verdade é que nos amámos um ao outro, nunca deixámos de nos amar, somos obcecados. E não conseguimos fazer nada, uma única coisa, com esse amor. Não conseguimos fazer uma vida. Não fomos capazes de renunciar ao amor, mas recusámos vergar-nos ao seu poder.É fácil descrever o problema, mas nós não o descrevemos na altura. Nunca dissemos «escuta, é isto que sentimos, que vamos fazer a partir daqui?».

- Ian McEwan

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1/23/2006

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O lugar que ocupas. As luzes que te buscam incessantemente. Os pedaços que são guardados para ti. A esperança que um dia os apanhes. A esperança que um dia me consiga sentar ao teu lado e juntos consigamos olhar a vida de frente sem este vai e não vai que me sufoca, que nos sufoca. E prefiro as luzes. Prefiro não ter que passar pelo escuro onde vejo a verdade, onde o sonho não tem lugar. Talvez um dia saibamos o que perdemos. Talvez um dia possas não querer olhar para trás. Talvez um dia o abraço desejado não passe de um pedaço que nunca foi apanhado. (Oldmirror)

1/20/2006

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A lovestruck romeo sings a streetsus serenade
Laying everybody low with me a lovesong that he made
Finds a convenient streetlight steps out of the shade
Says something like you and me babe how about it ?
Juliet says hey it’s romeo you nearly gimme a heart attack
He’s underneath the window she’s singing hey la my boyfriend’s back
You shouldn’t come around here singing up at people like that
Anyway what you gonna do about it ?
Juliet the dice were loaded from the start
And I bet and you exploded in my heart
And I forget the movie song
When you wanna realise it was just that the time was wrong Juliet ?
Come up on differents streets they both were streets of shame
Both dirty both mean yes and the dream was just the same
And I dreamed your dream for you and your dream is real
How can you look at me as if I was just another one of your deals ?
Where you can fall for chains of silver you can fall for chains of gold
You can fall for pretty strangers and the promises they hold
You promised me everything you promised me think and thin
Now you just says oh romeo yeah you know I used to have a scene with him
Juliet when we made love you used to cry
You said I love you like the stars above I’ll love you till I die
There’s a place for us you know the movie song
When you gonna realise it was just that the time was wrong juliet ?
I can’t do the talk like they talk on tv
And I can’t do a love song like the way it’s meant to be
I can’t do everything but I’d do anything for youI can’t do anything except be in love with you
And all I do is miss you and the way we used to be
All do is keep the beat and bad company
All I do is kiss you through the bars of a rhyme
Julie I’d do the stars with you any time
Juliet when we made love you used to cry
You said I love you like the stars above I’ll love you till I die
There’s a place for us you know the movie song
When you gonna realise it was just that the time was wrong Juliet ?
A lovestruck romeo sings a streetsus serenade
Laying everybody low with me a lovesong that he made
Finds a convenient streetlight steps out of the shade
Says something like you and me babe how about it ?

- Dire Straits

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Quando na imaginação tudo nos soa perfeito. Quando no sonho não precisamos de correr no tempo. O nosso tempo. A nossa distância. A vontade tal que quase sentimos o beijo. Torna-se imperativo estarmos longe. Torna-se o mais terrível dos vícios, o mais saboroso dos desejos. (Oldmirror)

Cuántas veces, amor, te amé sin verte y tal vez sin recuerdo,
sin reconocer tu mirada, sin mirarte, centaura,
en regiones contrarias, en un mediodía quemante:
eras sólo el aroma de los cereales que amo.
Tal vez te vi, te supuse al pasar levantando una copa
en Angol, a la luz de la luna de Junio,
o eras tú la cintura de aquella guitarra
que toqué en las tinieblas y sonó como el mar desmedido.
Te amé sin que yo lo supiera, y busqué tu memoria.
En las casas vacías entré con linterna a robar tu retrato.
Pero yo ya sabía cómo era. De pronto
mientras ibas conmigo te toqué y se detuvo mi vida:
frente a mis ojos estabas, reinándome, y reinas.
Como hoguera en los bosques el fuego es tu reino.

- Pablo Neruda

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1/17/2006

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Descobriste-me. Sentiste-me. Soubeste-me. Revelaste-me. (Oldmirror)

como hei-de segurar a minha alma para ela não tocar na tua?
como hei-de levá-la por cima de ti para outras paragens?
gostaria de arrumá-la em algum lugar perdido no escuro,
num sítio estranho e tranquilo que não transmite
as vibrações que produzes nas tuas profundezas.
mas tudo o que nos toca, a ti e a mim, junta-nos
como a arcada do violino que faz uma voz de duas cordas.
em que instrumento estamos esticados?
e quem é o violista que nos tem na mão? (...)


- Rilke

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1/14/2006

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O que se sente quando nos tocamos. A que sabe o beijo que damos. Quantos sorrisos conseguimos trocar. Quantas lágrimas conseguimos secar. Em qual dos colos mais adormecemos. Que reacção fazem as nossas peles. A que cheiram os nossos cheiros. O calor das mãos unidas. O arrepio dos dedos entre os cabelos. A melodia das vozes conjuntas. Tudo deixa de existir com um abrir dos olhos, com o final do sonho, com o amanhecer entre os estores. Não nos conhecemos. (Oldmirror)

It is all in the mind, you say, and has
nothing to do with happiness. The coming of cold,
the coming of heat, the mind has all the time in the world.
You take my arm and say something will happen,
something unusual for which we were always prepared,
like the sun arriving after a day in Asia,
like the moon departing after a night with us.

- Mark Strand

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1/07/2006

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Uma vez mais está feito. Uma vez mais o caminho encontrado para alguém perdido na encruzilhada de uma vida onde apenas uma estrada existia. Olhar para o sorriso da vitória com os olhos que vão vertendo lágrimas. Ouvir as vozes da esperança com os ouvidos que se habituaram aos pesadelos. Saber que a vida foi reencontrada com a incerteza de uma vida ausente. Haverá muito ainda para fazer. Haverá já pouco a receber. Coleccionando milagres para que tapem os buracos de um coração que só não serve para que a vida nele exista. (Oldmirror)

Angel of gaiety, have you tasted grief?
Shame and remorse and sobs and weary spite,
And the vague terrors of the fearful night
That crush the heart up like a crumpled leaf?
Angel of gaiety, have you tasted grief?
Angel of kindness, have you tasted hate?
With hands clenched in the shade and tears of gall,
When Vengeance beats her hellish battle-call,
And makes herself the captain of our fate,
Angel of kindness, have you tasted hate
Angel of health, did you ever know pain,
Which like an exile trails his tired footfalls
The cold length of the white infirmary walls,
With lips compressed, seeking the sun in vain?
Angel of health, did ever you know pain?
Angel of beauty, do you wrinkles know?
Know you the fear of age, the torment vile
Of reading secret horror in the smile
Of eyes your eyes have loved since long ago?
Angel of beauty, do you wrinkles know?
Angle of happiness, and joy, and light,
Old David would have asked for youth afresh
From the pure touch of your enchanted flesh;
I but implore your prayers to aid my plight,
Angel of happiness, and joy, and light.

- Charles Baudelaire

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1/04/2006

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Há momentos emque nos sentimos amarrados. Há alturas em que nem toda a força do Mundo nos consgue empurras para a frente. Há vidas onde por muito que consigamos nadar contra a maré as forças acabam e sem elas desistimos de procurar a praia das areias brancas. Por quanto tempo conseguiremos querer amar sem que o possamos fazer? Por quanto tempo conseguiremos querer sem querer? Estamos cansados, não teremos por isso direito ao descanso, a sermos embalados pelos braços que apenas ao longe se vão agitando? (Oldmirror)

You who never arrived in my arms,
Beloved, who were lost from the start,
I don't even know what songs would please you.
I have given up trying to recognize you
in the surging wave of the next moment.
All the immense images in me -- the far-off,
deeply-felt landscape, cities, towers, and bridges,
and unsuspected turns in the path,
and those powerful lands
that were once pulsing with the life of the gods
-- all rise within me to mean you, who forever elude me.
You, Beloved, who are all the gardens
I have ever gazed at, longing.
An open window in a country house-- ,
and you almost stepped out, pensive, to meet me.
Streets that I chanced upon,
-- you had just walked down them and vanished.
And sometimes, in a shop, the mirrors were still dizzy with your presence and,
startled, gave back my too-sudden image.

Who knows? Perhaps the same bird echoed through both of us yesterday,
separate, in the evening...

- Rainer Maria Rilke

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1/02/2006

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[Foto by Abdul Kadir Audah]

Como se de uma escada rolante se tratasse, sem me mexer, deixo que o tempo me leve, me faça descer, lentamente, até tocar o chão. Na viagem vou querendo acreditar que em cada degrau encontrarei o que busco, em cada degrau estará aquilo que me leverá a pedir: quero sair aqui mesmo! Não resisto, olho para cima, vejo os degraus que já desci, olho para baixo, vejo os poucos que me faltam descer e quero acreditar mas não acredito. São cada vez mais os pedaços de escada que ficam para trás e muito poucos os que consigo ver á minha frente. (Oldmirror)

Say
Goodbye
Sunshine
Daylight
'Cause it's just another day
You will lose it anyway
Kiss
The time
That goes
Away
'Cause it's just another day
You will lose it anyway
You
You lust
In Space
In
Time
'Cause it's just another day
You will lose it anyway

- Air

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