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O vermelho da carne quase viva, quase esquecida do prazer escondido debaixo de um peito duro onde se encerra um coração quase esquecido de galopar. A tontura do regresso à liberdade após o sono injusto que se tornou num quadro único sem lugar a memórias. O desgastar dos músculos que alegremente reconhecem a exaustão avisados pelo suor que reencontra os caminhos sequiosos dos troncos abandonados por uma seca demasiado eterna. O calor insuportável mas suportável pelo prazer de olhar o degelo de um corpo mantido na mais baixa temperatura a que a emoção consegue descer. A voz, aquela voz que não fala mas solta música pelos gemidos de uma garganta onde o som deixou de passar. (Oldmirror)
Só tenho três desejos agora, comer, dormir e foder. Os cabarets excitam-me. Apetece-me ouvir música rouca, ver caras, roçar-me em corpos, beber um ardente Benedictine. Mulheres belas e homens atraentes despertam ardentes desejos em mim. Quero dançar. Quero drogas. Quero conhecer pessoas perversas, ser íntima delas. Nunca olho para caras ingénuas. Quero morder a vida e ser despedaçada por ela. Henry não me dá tudo isso. Eu despertei o seu amor. Que se lixe o seu amor. Ele sabe foder-me como mais ninguém, mas quero mais do que isso. Vou para o Inferno, para o Inferno, para o Inferno. Selvagem, selvagem, selvagem
- Anaïs Nin
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